sábado, 26 de setembro de 2009

O LEITOR VAMPIRO



Javier Cercas, autor espanhol (lembremo-nos, por exemplo, de “Os Soldados de Salamina”), publicou recentemente um artigo na revista semanal de “El País”, que intitulou “El Lector Vampiro”. Artigo extremamente interessante, apoiado em escrito de Saul Bellow (autor do célebre “Herzog”). Assim, logo no início do seu texto, passa a citar Bellow: “Na minha juventude, a literatura fazia parte integrante da vida: absorvia-se, era assimilada pelo nosso organismo. Não se era conhecedor, esteta, amante da literatura. Não, a literatura era uma forma de vida, algo que se ingeria, que passava a fazer parte da nossa própria substância, algo que constituía um caminho de libertação e de liberdade plena”.
Apoiando-se nesta ideia, Cercas continua: “... o leitor vampiro não lê livros: zurze-os, chupa-lhes o sangue, rouba-lhes a alma, não quer ler livros: quer que os livros lidos passem a fazer parte, como disse Bellow, da sua própria substância.”
Interroga-se Javier Cercas sobre o momento em que esta paixão, melhor, esta obsessão, tem início na vida de um cidadão, para concluir que é na adolescência, na juventude, que este “vício” costuma surgir. E quando se chupa o sangue de um livro, não mais se consegue parar...
Não posso deixar de me interrogar por que tenho lido tanto livro ao longo da minha vida. Naturalmente, que aos quinze anos não se procura na literatura o mesmo que se busca aos 75, embora não possa deixar de haver elementos comuns, intrínsecos à personalidade do leitor. Mas por que se lê? Para “vivermos” o que nunca havíamos vivido? Para encontrarmos respostas sobre nós próprios, sobre os outros? Sobre o transcendente? Para fugirmos ao que somos, ao que fazemos? Para ficarmos mais ricos espiritualmente? Para nos aturdirmos (quem nunca experimentou a famosa “bebedeira da leitura”...)?
Sim, talvez se leia por um pouco de tudo isto, talvez mais por uns aspectos do que por outros, consoante as fases da nossa vida. Talvez, talvez, enfim, tantas dúvidas, tantas interrogações, para se caracterizar algo de tão íntimo, tão natural como o ar que se respira – portanto, algo tão difícil de explicar...

1 comentário:

Alda Couto disse...

Provavelmente lê-se para um bocadinho de tudo isso :) Quando era ainda uma garota, antes mesmo da adolescência, a minha mãe costumava dizer que eu não lia, "devorava" os livros. Penso que essa fase de "leitor vampiro" se foi atenuando não porque leia menos mas porque leio de outras maneiras, talvez a minha alma se tenha saciado e agora seja o intelecto a pedir conhecimento ou o corpo a pedir viajens...