segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

BARTLEBY, O ESCRIVÃO



O que é escrever bem?, perguntou-me uma das minhas filha. Não é fácil encontrar resposta imediata. Mas estou certo que se quiser dizer a alguém o que é escrever bem dar-lhe-ei a ler este conto ou novela de Melville.

Herman Melleville escreveu um dos mais notáveis romances da história da literatura: "Moby Dick". É obrigatório lê-lo, farto-me de dizê-lo às filhas. E eu, miserável leitor vagabundo, tenho-o adiado na estante das urgências e envergonhadamente confesso que ainda não o li.

Mal vi este "Bartleby" agarrei-me a ele numa espécie de acto de contrição. Trata-se de um conto único, construído em torno de uma personagem enigmática e simbólica, Bartleby, o escrivão, sobre o qual muitos outros escritores se tâm debruçado, nomeadamente Jorge Luís Borges que faz a apresentação do conto nesta "Biblioteca de Babel" em que o grande escritor argentino juntou algumas obras primas da literatura fantástica e que, em boa hora, a Presença tem vindo a publicar, contando já com obras de Papini, Chesterton, Edgar Allan Poe, Kipling ou Jack London.

São pequenas jóias publicadas com a deliciosa apresentação gráfica da edição italiana.

Bartleby é o escrivão que começa a trabalhar no escritório de um notário e que se recusa a obedecer a qualquer ordem do patrão argumentando apenas que: "Preferia não fazer isso." E o narrador, o seu patrão fica paralisado perante o inesperado da resposta que se vai repetindo.

De início Bartleby prefere não fazer pequenas tarefas, depois, prefere não trabalhar e pasa o dia à janela. Quando o patrão o despede, Bartleby prefere não sair do escritório. Incapaz de lidar com a situação

É fantástica a sequência de reflexões que o patrão/narrador faz para tentar compreender as razões de um comportamente cada vez mais absurdo e desesperado que levará Bartleby à morte, provavelmente porque prefere não viver.

O ritmo da escrita de Melville que nos leva a mergulhar progressivamente nesse absurdo é irresistível.

E quando chegamos ao fim, sem saber bem o que dizer, ficamos revelados e envolvidos na frase com que o autor termina escrevendo:

"Ah! Bartleby! Ah! Humanidade"

1 comentário:

Vera de Vilhena disse...

Eis uma leitura que promete! Já tive o prazer de ler um dos volumes desta colecção e a vontade que dá é a de adquirir, de qualquer foma, a colecção inteira. Estes contos seleccionados e prefaciados pelo grande J.L. Borges, são realmemte uma delícia. A Presença está de parabéns, pela iniciativa e pela edição, que tão bem "veste" estas narrativas singulares e desconcertantes.