domingo, 31 de julho de 2011
LENDAS DA ÍNDIA
A afabilidade do Luís Filipe Castro Mendes só tem tido para mim paralelo no discreto classicismo da sua poesia.
Desde há anos que acompanho a sua poesia e o rigor elegante da sua obra e reconhecendo nela a primazia dada ao canto do amor.
Estas "Lendas da Índia", resultantes por certo da sua vida de diplomata errante, vêm trazer algumas surpresas. Primeiro, o verso livre que substitui a forma clássica dominante na poesia anterior, só deixando no final do livro dois comoventes sonetos à morte do pai. Segundo, a dominância de uma outra música, menos "sinfónica", porventura, mas mais inquieta, melancólica e tangente ao tema do amor como presença permanente mas enublada pelo tecido translúcido da reflexão sobre a pertença e não pertença, a pátria como raiz em memórias e sinais inequívocos da História dos portugueses na Índia.
A erudição do autor tem o condão de não obscurecer a poesia mas de lhe conferir uma espessura tecida em retratos, reflexões e sussurros nascidos de prosódia envolvente, lenta e bela.
Luís Filipe Castro Mendes nunca foi um poeta especialmente referenciado. E é lamentável. Porque vale muito a pena ser lido. E, hoje por hoje, será uma das poucas vozes que prolonga a dimensão da grande poesia do século XX.
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