domingo, 4 de setembro de 2011

UMA CAIXINHA DE HISTÓRIAS



Dizia-me a editora Piedade Ferreira há poucos dias que algumas editoras publicam demasiado cedo autores que só mais tarde começam a cair no goto do público e no da máquina publicitário/crítica que promove alguns autores e ignora outros sem razão aparente que não seja a ignorância.

Deu-me a Piedade como exemplo os dois magníficos romances que publicou na Quetzal há 15/20 anos de Hernán Rivera Letelier,autor que só agora se tornou referido e sublinhado mas que foram então foram um fracasso na época e que aparecem a pataco por aí nas feiras do livro barato.

A Cavalo de Ferro tem feito um trabalho notável de divulgação de escritores de literaturas menos divulgadas em Portugal. E entre vários conta-se Ivo Andric, nacido de família croata na Bósnia, diplomata e Prémio Nobel em 1961.

Esta sua pequena novela é passada no pátio de uma terrível prisão turca, em Istambul. Em redor estão as celas que em cada manhã atiram para o pátio uma variado e muito sui geris grupo de prisioneiros que vivem durante o dia no pátio onde conversam, brigam, jogam e contam histórias.

Naquele pátio maldito onde um director exerce o poder sem peias e de forma muito própria, cruzam-se assassinos, ladrões, aldrabões, inocentes, ignorantes da sua culpa, gente da mais baixa condição social e senhores de hábitos de grande sofisticação.

Aqui se sussurram ou gritam as histórias reais dos presos, as memórias, invenções, mentiras, acusações, delírios, mitos e ficções que cada preso inventa para poder sobreviver e afirmar-se perante os outros.

Neste ambiente inquietante, as histórias quase que trepam umas por cima das outras, envolvem-se, repetem-se em versões novas, divergindo e convergindo numa girândola imparável.

Este pátio e esta história podiam ser uma espécie de mil e muitas mais noites, uma caixinha sempre pronta a deixar sair mais uma e outra história.


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