“A
Lámpara de Aladino”
de Luís Sepúlveda
Porto Editora
Nesta
época absolutamente desumana e falsamente embrulhada em humanidade que vamos atravessar podemos oferecer muito ou pouco. Sendo que o muito ou pouco que damos
reside numa riqueza de palavras que não podemos ter sem o contributo
da leitura. Digo leitura e não livros por ser mais lato,
ainda que muitos de nós tenhamos coladas a nós as páginas do
papel como a pele ao corpo.
Se
podemos viver sem livros? Claro que sim. Mas seríamos muito mais
pobres, solitários e infelizes. Ainda que possamos ser isso tudo no
meio deles.
Quando recomendamos um livro fazemo-lo, por vezes, pelo que ela nos deu independentemente do contributo que deu à grande Literatura.
Gostar
de um autor pode levar-nos à tentação de ler tudo dele e esgotar a
surpresa ou de o relegar durante muito tempo para leituras futuras
enquanto partimos à descoberta de novos. Na
busca de equilíbrio cruzei-me com “A Lámpada de Aladino” de
Luís Sepúlveda
Neste
caso vale a pena o regresso porque reconhecemos a escrita, a
atmosfera e a surpresa está lá. E
trago-o aqui porque ainda não o consegui arrumar.
Um livro de contos
que é um livro de viagens. Quando estamos em casa para sair por aí
e quando andamos por aí para ter um lugar de regresso. Para ser
andarilho sem ficar perdido é preciso ter dentro de nós a casa e o
ser. E para ser sedentário quanto baste é preciso viver nos livros
a vida que nos falta.
Luís
Sepúlveda conta-nos como surgiu o “Velho que lia romances do amor”
e ficamos com a sensação de que cada conto dele nasce assim. E
sentimos esse privilégio de, ao ler, nos parecer estarmos lá a
olhar por cima do ombro, o momento inspirador da história, a
história ela mesma. Ficção e realidade abraçadas. Que
nisto de viajar, ou deambular pelo mundo, há quem volte o mesmo,
desperdiçando a viagem e há quem pare num lugar para o apreender
para o respirar, nunca desperdiçando a história do desconhecido/a solitário/a.
Nos
solitários hotéis por onde Sepúlveda nos leva não nos sentimos
esmagados pela desolação que encerram porque ele sempre nos coloca na rota do encontro, da confidência de mistérios da vida. Não há
histórias de princípio e fim apenas farripas de vidas, de pequenas
felicidades e mistérios, encontro/desencontro… Aparecem
mulheres e é sempre com ternura que elas emergem das páginas.
Sepúlveda dá-nos a sua visão da mulher. Não que haja uma escrita
masculina mas há indiscutivelmente o olhar, o sentir do homem no
olhar e ternura que usa para nos contar das mulheres.
Tenho dificuldade em destacar apenas uma, todas têm uma unidade neste périplo pelo mundo. Vida repetida. Mas um faz-me pensar no livro do Gabriel Garcia Marques “Amor em
tempo de Cólera”. nos poemas de Neruda, ou de kavafis. Gosto de sentir que os caminhos fazem sentido por algo que havemos de encontrar algures, mesmo que muitos anos depois.
Um
pequeno livro viajante que toca com mãos e alma a realidade que encontra.
Um bom presente...
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