domingo, 9 de novembro de 2014

"Dijiste: "Iré a otra ciudad, iré a otro mar./Otra ciudad ha de hallarse mejor que ésta./Todo esfuerzo mío es una condena escrita;/y está mi corazón - como un cadáver - sepultado./(...)" Kavafis

A Lámpara de Aladino” 
de Luís Sepúlveda 
Porto Editora

Nesta época absolutamente desumana e falsamente embrulhada em humanidade que vamos atravessar podemos oferecer muito ou pouco. Sendo que o muito ou pouco que damos reside numa riqueza de palavras que não podemos ter sem o contributo da leitura. Digo leitura e não livros por ser mais lato, ainda que muitos de nós tenhamos coladas a nós as páginas do papel como a pele ao corpo.

Se podemos viver sem livros? Claro que sim. Mas seríamos muito mais pobres, solitários e infelizes. Ainda que possamos ser isso tudo no meio deles.
Quando recomendamos um livro fazemo-lo, por vezes, pelo que ela nos deu independentemente do contributo que deu à grande Literatura.

Gostar de um autor pode levar-nos à tentação de ler tudo dele e esgotar a surpresa ou de o relegar durante muito tempo para leituras futuras enquanto partimos à descoberta de novos. Na busca de equilíbrio cruzei-me com “A Lámpada de Aladino” de Luís Sepúlveda
Neste caso vale a pena o regresso porque reconhecemos a escrita, a atmosfera e a surpresa está lá. E trago-o aqui porque ainda não o consegui arrumar. 

Um livro de contos que é um livro de viagens. Quando estamos em casa para sair por aí e quando andamos por aí para ter um lugar de regresso. Para ser andarilho sem ficar perdido é preciso ter dentro de nós a casa e o ser. E para ser sedentário quanto baste é preciso viver nos livros a vida que nos falta.

Luís Sepúlveda conta-nos como surgiu o “Velho que lia romances do amor” e ficamos com a sensação de que cada conto dele nasce assim. E sentimos esse privilégio de, ao ler, nos parecer estarmos lá a olhar por cima do ombro, o momento inspirador da história, a história ela mesma. Ficção e realidade abraçadas. Que nisto de viajar, ou deambular pelo mundo, há quem volte o mesmo, desperdiçando a viagem e há quem pare num lugar para o apreender para o respirar, nunca desperdiçando a história do desconhecido/a solitário/a.

Nos solitários hotéis por onde Sepúlveda nos leva não nos sentimos esmagados pela desolação que encerram porque ele sempre nos coloca na rota do encontro, da confidência de mistérios da vida. Não há histórias de princípio e fim apenas farripas de vidas, de pequenas felicidades e mistérios, encontro/desencontro… Aparecem mulheres e é sempre com ternura que elas emergem das páginas. Sepúlveda dá-nos a sua visão da mulher. Não que haja uma escrita masculina mas há indiscutivelmente o olhar, o sentir do homem no olhar e ternura que usa para nos contar das mulheres. 

Tenho dificuldade em destacar apenas uma, todas têm uma unidade neste périplo pelo mundo. Vida repetida. Mas um faz-me pensar no livro do Gabriel Garcia Marques “Amor em tempo de Cólera”. nos poemas de Neruda, ou de kavafis. Gosto de sentir que os caminhos fazem sentido por algo que havemos de encontrar algures, mesmo que muitos anos depois.

Um pequeno livro viajante que toca com mãos e alma a realidade que encontra. 
Um bom presente... 

Sem comentários: