domingo, 11 de outubro de 2015
SOMBRA E LUZ
Henning Mankell é um excepcional narrador com o ofício caldeado na literatura policial.
O seu inspector Kurt Wallander é uma personagem excepcionalmente bem talhada. A sua humanidade vai-se desenvolvendo através de aventuras, crimes, quer doS pequenos, quer dos crimes dos grandes grupos económicos e políticos.
O ritmo é seguro, eficaz e envolvente e a narrativa desenvolve-se através de surpresas que nos interrogam e questionam.
Assim também este “Anjo Impuro”.
Sendo um dos autores europeus que mais livros vende, Mankell vive em Maputo onde colabora e apoIa a vários níveis o excelente grupo de teatro “Mutumbela Gogo”
O seu romance, inspirado numa história real, centra-se numa jovem sueca de origem muito pobre que em 1904 embarca como cozinheira e única mulher a bordo de vapor que leva madeira para a Austrália.
Na viagem, Hanna casa-se com o imediato do navio tornando-se inesperadamente viúva, poucas semanas depois.
Incapaz de continuar a bordo desembarca em Lourenço Marques, descobre-se grávida, adoece e é recolhida e tratada no mais famoso bordel da cidade, cujas protitutas são todas negras e muito procuradas por homens brancos, profundamente racistas, mandadores de uma sociedade radicalmente racista quer em Moçambique quer na África do Sul.
Recuperada de um aborto natural, graças a uma prostituta de quem se torna amiga, Hanna começa a confrontar-se com uma sociedade que não entende. Não entende a violência e o racismo, e também não entende a reacção dos negros, os seus silêncios e as suas estranhas emoções. .
Entalada entre dois mundos, aprendendo a pouco e pouco a língua portuguesa, Hanna que aprendeu a ler e a escrever sozinha ainda na Suécia, começa a escrever um diário.
Com surpresa, Hanna recebe o pedido de casamento do riquíssimo dono do bordel. Aceita e casa-se com ele. E de novo fica viúva. Viúva e muito rica.
E a historia continua centrada na digna oposição de Hanna ao terror racista e colonial e ainda na sua tentativa de se entender, comunicar e expressar afectos aos negros, o que nem sempre se torna fácil.
Mankell consegue traçar um quadro impressionante sobre a África Austral do início do séc. XX e a dificuldade de comunicação fora do contexto de um colonialismo básico e extremamente violento.
E consegue criar uma malha narrativa que nos envolve e nos vai levando de surpresa em surpresa, de angústia em angústia, de sombra em luz.
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1 comentário:
Já o tenho cá em casa, obrigado por partilhares.
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