quarta-feira, 18 de novembro de 2015
UMA ALMA ENORME
Conheci a Cristina há meia dúzia de anos. Descobri que era filha de António Gedeão e fiquei naturalmente encantado por ser filha de quem é e por ser quem é: uma pessoa encantadora, capaz de viver a vida em todas direcções e sempre com uma alma enorme.
Nessa altura tinha lido um livro dela: "O gato de Upsala", uma delícia que ela assinou escrevendo que h´4o anis que éramos amigos e só então é que nos conhecíamos.
Continuamos a ser amigos. Muito amigos. E eu tive o imenso prazer de colaborar na apresentação deste seu livro recente, ao seu lado, do Mário de Carvalho e da Ana Pereirinha, a excelente editora da Planeta.
Posso dizer que a minha querida amiga Cristina Carvalho é uma mulher de paixões que transbordam na escrita onde tem dado a público nos últimos anos uma série de livros muito interessantes, quer para adultos quer para jovens.
Lendo este livro percebemos logo nas primeiras páginas que a Cristina fugiu aos modelos clássicos do género, e que se apaixonou pela figura fantástica d e Modigliani e desatou a escrever uma biografia que também pode ser uma auto-biografia escrita por outra mão que não a do que se auto-bigrafa.
Isto pode parecer esquisito mas não é.
A Cristina escreve esta biografia como se se tratasse de um painel de vários olhares e várias mãos escritoras. A dela, autora, a de Modigliani sob a forma de de uma certa biografia, a da descrição de várias outras personagens, nomedamente algumas das mulheres que amaram e foam foram amadas pelo grande pintor.
Em destaque estão as doenças que sempre massacraram o pintor desde a sua infância e juventude, o seu mergulho em álcool e drogas, a vida que arrasta numa roda de boémia e miséria, a forma como arrebata o coração das mulheres, a forte crença no valor da sua própria obra, a forma com alterna os estados de espírito entre a depressão e a euforia, tão próprio das personalidades criativas.
Em destaque ainda está o encanto sensual e o deslumbre que o belo judeu italiano exercia sobre as mulheres, as mais mundanas e experientes ou as mais ingénuas como aquela que foi a mãe da sua filha e que por ele se suicidou a seguir à sua morte.
O romance não será bem um romance no sentido clássico mas um turbilhão crescente que arrasta o leitor, uma roda de viva de momentos, pequenas histórias, personagens diversas desde mãe até aos amigos e às amantes, passando pela estranhíssima relação com Picasso (ou de Picasso com ele) e tudo num carrosel de olhares sobre Modigliani que vai rodando cada vez mais depressa até à morte inevitável ainda numa idade jovem..
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