“L’idée renversante et simple, jamais exprimée auparavant avec cette force, que le sommet du bonheur humain réside dans la soumission la plus absolue. C'est une idée que j'hésiterais à exposer devant mes coreligionnaires qu'ils jugeraient peut-être blasphématoire, mais il y a pour moi un rapport entre l'absolue soumission de la femme à l'homme, telle que la décrit Histoire d'O, et la soumission de l'homme à Dieu, telle que l'envisage l'islam. Voyez-vous, poursuivit-il, l'islam accepte le monde, et il l'accepte dans son intégralité, il accepte le monde tel quel pour parler comme Nietzsche. Le point de vue du bouddhisme est que le monde est dukkha – inadéquation, souffrance. La christianisme lui-même manifeste de sérieuses réserves – Satan n'est-il pas qualifié de “prince du monde”? Pour l'Islam au contraire la création divine est parfaite, c'est un chef-d'œuvre absolu. Qu'est-ce que le Coran au fond, sinon un immense poème mystique de louange? De louange au Créateur, et de soumission à ses lois.”
Michel Houellebecq
Submissão é mais um inquietante romance do polémico escritor francês Michel Houellebecq, autor de obras não menos controversas como Les particules élémentaires, Plateforme, Extension de domaine de la lute, La possibilité d'une île, entre outras . Em 2022, a França, logo após a primeira volta das eleições presidenciais, é um país profundamente dividido entre a extrema direita de Marine Le Pen e o recém-criado partido da Fraternidade Muçulmana conduzido por um líder astuto e carismático que vence por pequena margem o candidato do partido socialista. O país é assolado por tumultos, por incêndios de carros e pela destruição de mesas de voto. Anos sucessivos de políticas sociais desastrosas subordinadas prioritariamente às questões práticas da economia e das finanças dão origem a um confronto entre forças políticas que inevitavelmente desfigurarão para sempre a identidade do país. Para o embate final, socialistas e gaulistas unem-se à Fraternidade Muçulmana para derrotar os neo-fascistas. O preço a pagar é a destruição de dezenas de anos de políticas sociais e uma radical reforma educacional e cultural que desmontará a educação laica e republicana e a substituirá por uma educação de inspiração religiosa e muçulmana.
Este é o pano de fundo político da narrativa que tem como personagem principal François, um professor e investigador de literatura francesa do século XIX na Sorbonne - Paris III. A forma desapaixonada e algo cínica como encara o ensino levam-no a adoptar sem sobressaltos pela reforma aquando da islamização da universidades que tem lugar após a vitória da Fraternidade Muçulmana. Porém, após um período de depressão e isolamento, acaba por sucumbir à oferta que lhe é formulada de retornar à universidade. A perspectiva de gozar da notoriedade decorrente da nova posição universitária, a triplicação do seu salário e a possibilidade de poder gozar do direito da poligamia parecem-lhe compensar largamente a exigência de se converter ao islamismo.
Submissão é um livro que analisa com grande perspicácia as questões fundamentais da construção europeia, da natureza das identidades no início do século XXI, e a correlação de forças políticas e sociais que nas décadas vindouras serão incontornáveis na Europa.
Orfeu B.
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