domingo, 10 de agosto de 2008

CARLOS V, OS CLÁSSICOS E GÓGOL



Levei alguns segundos a tentar descobrir quem seria o Carlos quinto do email recebido ou, melhor, “o Carlos V”. Também de pequenos desacertos e distracções se faz a leitura….

O Carlos V de Ventura veio dar-nos a todos uma pequena e muito séria lição. Muitas vezes, também na leitura, deixamo-nos levar pela urgência das novidades, pela voragem do consumo, pela sedução terrível do marketing, pela sucessão de novos e “fantásticos” autores que alguns críticos promovem por incumbência das editoras.

Vamos arriscando e lendo alguns livros engraçados, outros assim-assim, outros que nem por isso, um ou outro genuinamente interessante ou apaixonante até. Mas ficamos sempre com a sensação de que não lemos nem uma pequena parte do que o mercado nos oferece.

Neste caminho algo angustiante com que pretendemos estar à la page vamos deixando para trás os clássicos que muitas vezes não lemos e andamos a adiar para um dia em que…

Flaubert, Camilo, Tolstoi, Goethe, Melville, Eça… E também Aristóteles, Dante, Shakespeare, António Vieira. E ainda Aquilino, Steinbeck, Conrad, … Tantos!

Talvez os modernos estejam mais próximo de nós. Talvez seja mais difícil a leitura daquilo a que se chama os clássicos. Mas também as alegrias no final são quase sempre bem maiores.

Tenho a sensação de que os clássicos têm para nós um prestígio quase sagrado que nos obriga a entrar nas suas páginas com o respeito e a compostura de quem entra nas naves imensas e sombrias das grandes catedrais.

Os clássicos exigem da parte do leitor um compromisso mais intenso, uma entrega mais fervorosa, um esforço maior no sentido de mergulharmos nos pressupostos de um tempo outro, com outras paisagens, outros costumes, outros ritmos, outros olhares.

No final, os clássicos oferecem-nos o júbilo da pedra preciosa, a maravilha da frase e do parágrafo, a profundidade do olhar, o encontro com o mais fantástico e terrível da nossa tão imperfeita humanidade.

Por isso…

A propósito, um dos clássicos que mais me entusiasmou nos últimos meses foi os “Contos de São Petersburgo” de Nikolai Gógol. Um primor de narrativa, de escrita e também de tradução. Pode ser lido dos 10 aos 80 anos. E ainda mais, as “Almas mortas”, também de Gógol são outro mergulho nos primores da observação e reflexão sobre a natureza humana.

2 comentários:

Paulo Ventura disse...

Li os contos de são petersburgo em edições separadas (uma por conto); são geniais (gosto particularmente do Nariz e do Capote). Almas mortas é um dos livros que reverencio.
Abraços

Tiago Carvalho disse...

Vou estar mais atento aos clássicos, fica a promessa. A leitura de Borges estimulou-me. A leitura de José Luis Peixoto incitou-me. A leitura deste “post” comprometeu-me.