terça-feira, 5 de agosto de 2008

"Os efeitos da leitura"



Já que falamos de livros e de leituras, gostaria de lembrar os tempos (prefiro pensar que isto já não acontece!) em que ler era ociosidade e os efeitos de "muita leitura" poderiam ser desastrosos, pelo que todo o cuidado era pouco, face aos livros !

Voltando ao livro de José Morais "A arte de ler" (digo voltando porque diversas vezes o tenho referido) cito uma passagem que, por sua vez, é também uma citação, de "Dom Quixote" - Cervantes.

"É preciso saber que o referido fidalgo, durante seus momentos de ócio (que eram a maior parte do ano), punha-se a ler livros de cavalaria com tanto entusiasmo e gosto, que quase esqueceu completamente o exercício da caça e a administração de seus bens... Em suma, enfrascou-se tanto em sua leitura que passava as noites de claro a claro e os dias de escuro a escuro, e assim, do pouco dormir e do muito ler, secou-se-lhe o cérebro, de maneira que veio a perder o juízo".

4 comentários:

JOSÉ FANHA disse...

E é o nosso caso, não é? Mais ou menos... De claro a claro, de escuro a escuro...

Penso a medo que talvez ler assim, como nós lemos, seja uma forma de resistência ao mundo em que vivemos e a que o escritor francês Frédéric Beigbeder chama "fashisme", mistura de fashion (publicidade, marketing, moda) com fascismo (ou esse novo fascismo em que o ultra-liberalismo se vai tornando).

Ler permite manter a nossa identidade, agarrar uma ética, segurar uma fé.

Não sei se estarei a ser excessivo... Mas gosto de pensar assim.

Abraços e beijos,

JFanha

JOSÉ FANHA disse...

E a propósito... Alguém me saberá exoplicar porque será que alguns dos nossos "críticos" literários fogem do termo "realismo mágico" como o diabo da cruz?

Percebo que já não está na moda. Tudo bem.

Percebo que já não é fashion. Tudo bem.

Percebo que já não é nisso que querem investir as editoras que vivem de braço dado com os tais "críticos". Tudo bem.

Mas a raiva com que se lhe referem... No Público, no Expresso... A propósito e a despropósito...

Alguém me saberá explicar?

JOSÉ FANHA disse...

“…a figura do crítico extinguiu-se praticamente ou perdeu toda a credibilidade.”

Jorge Volpi (escritor mexicano)

É só para explicar as aspas da palavra "crítico"...

Paula disse...

Caro José Fanha,

Tenho andado pelos livros e poesias na biblioteca de Tavira e fecho-me para o resto.
Os livros escolhem-me ou escolho-os... não sei bem, e nas leituras me encontro e me sinto acompanhada. Sempre que me apetece fugir há uma leitura que me prende e me devolve algum sentido.
Sei lá se também estou a ser excessiva !!

Beijinho,
Paula