sábado, 21 de março de 2009

"DAISY MILLER", na Patine do Tempo




A editora Veja publicou uma obra de Henry James, intitulada “Daisy Miller”. Nela, incluem-se quatro contos longos, o último dos quais, “Daisy Miller”, dá título à obra. Publicado pela primeira vez numa revista inglesa, em 1878, este conto guarda o mesmo encanto que maravilhou várias gerações dos seus leitores. O mesmo ou outro, ainda maior, que a poeira dourada do tempo põe em tudo o que é belo.
“Daisy Miller” é um texto “avant la lettre”, que os editores americanos da época não quiseram publicar, receosos do escândalo que poderia provocar. A liberdade, a ingenuidade, a simplicidade, a ousadia, a inocência de Daisy não se adequavam aos padrões da burguesia endinheirada da costa leste. Jovem de grande beleza, Daisy atravessa os círculos em que se movem os americanos residentes em Roma, sem se preocupar com as conveniências, as normas sociais que os regem. Enfim, uma americana na Roma conservadora de finais do século XIX, a passear a sua liberdade, a deslumbrar-se com os aspectos mais evidentes e superficiais de uma sociedade e de uma cultura, de que tudo desconhece, tão diferente (e até oposta) ela é da sociedade americana. Poder-se-á dizer que, com este texto, Henry James inaugura uma nova temática, que vai ter o seu apogeu na primeira metade do século XX: a do romance que dramatiza a vivência dos norte-americanos na Europa.
“Daisy Miller” é um texto de escrita contida, eivado de um erotismo difuso e, acima de tudo, um tratado de caracterização psicológica de personagens (personagens de outra época, mas tão profunda e subtilmente caracterizadas que são de todas as épocas). Caracterização dinâmica e evolutiva, feita em situações de interacção social, distinta da caracterização estática do romantismo, em que a personagem é definida (e existe) por si própria, independentemente da sua esfera relacional – o que confere a Henry James uma modernidade evidente.
Daisy, a figura central da obra, personifica a mulher que abre caminho para os tempos modernos, em libertação de tabus de séculos anteriores. Mulher-símbolo das mulheres das primeiras décadas do século XX, que têm como expoente maior Isadora Duncan, outra americana sequiosa de autenticidade e de liberdade, que galvanizou e escandalizou a Europa com a sua vida e a sua dança. Também por isso, podemos considerar James como um precursor do ser e do estar de um tempo que ainda não era o seu.

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