domingo, 15 de julho de 2012

FALAR DE LIVROS




FALAR DE LIVROS

(Com muita admiração e amizade a Helena Vasconcelos e Eugénio Lisboa)


Receio muito o exercício da opinião, sobretudo quando se torna "profissional" e de olho gordo posto na gorjeta; quando procura criar poder e influência sob a capa da reflexão e da especialização; quando vive das modas, ou seja, do negócio de circunstância; quando usa as cinco estrelas, quatro garfos, três parafusos e meio, uma qualquer tabela classificativa; quando intencionalmente magoa, exclui, ignora.

Exemplos destes lemos larga e regularmente nas páginas de crítica literária, musical, cinematográfica, teatral, de artes plásticas, etc,dos nossos jornais.

"O intelectual, o mandarim universitário, o rato de biblioteca não frequenta a escola da bravura.”, afirma Georges Steiner.


Quando falo de livros falo de uma leitura conduzida de dentro da minha vida. Um encontro humilde e apaixonado, sem outras preocupações que não as de permitir que essa leitura me acrescente. E há um rio que corre do livro lido ao meu encontro , um rio por onde circulam pequenas luzes que me vão iluminar hoje e amanhã e depois.

Citado por Harold Bloom ("Ler" Junho 2012), afirmava Oscar Wilde que: "A crítica literária é a única forma civilizada de autobiografia".

("Quatro entrevistas com Georges Steiner", Ramin Jahanbegloo, Ediçõs Fenda, Lisboa, 2006)


O problema será talvez quando não se tem biografia e só se tem opinião. Mas o pior ainda é quando a ausência de biografia implica a incapacidade de amar e faz com que o opinante se esconda por baixo da capa enganosa de um saber que se a si próprio como único critério de análise.

Eu leio com paixão. E quando a paixão não se solta e os livro nada me acrescenta ao acto de tactear a vida com os dedos, então nem falo desses livros. Secam à nascença. Ficam muito bem guardados na gaveta do esquecimento.

Voltando a Bloom: "Quando somos mais velhos, queremos que a crítica - como o ensino, a leitura, a escrita - não seja apenas humanista, seja também humana. Tem de ser amor à literatura antes de mais nada.

E acrescente-se de novo Georges Steiner:

“Ler não é sofrer mas, falando com propriedade, estarmos prontos a receber em nossa casa um convidado, ao cair da noite.”

Vale a pena ler os grandes leitores. Aprendemos muito com eles. Harold Bloom, Georges Steiner, Eduardo Lourenço.

E eu sei pouco. Mas tenho para a troca.

1 comentário:

Orfeu B. disse...

Simplesmente brilhante! Faço minhas essas ideias. Grandes leitores, grandes almas. Bem haja José Fanha.