quinta-feira, 22 de agosto de 2013

TEMPESTADES SUBTERRÂNEAS


Kjell Askieldsen, celebrado contista norueguês, escandalizou a sociedade lutrana do seu país pela tonalidade sexual das suas históriaa, acabando por se tornar hoje em dia num escritor referenciado, celebrado e premiado.

Ao longo da leitura destes contos breves mas intensos, lembrei-me amiúde de uma entrevista recente em que Gonçalo Ribeiro Teles afirmava que "A paisagem do Norte é simples, não há conflitos". Não existe no Norte a balbúrdia da natureza do Sul, do Mediterrâneo. No entanto, por dentro das tão desmunidas personagens de Askieldsen, há vulcões prontos a explodir.

O autor mostra-nos essa falta de diversidade biológica. As casas de vários dos seus contos são iguais com os seus jardins, os seus alpendres, as suas espreguiçadeiras, os quartos sempre no 1º andar. Iguais. Algumas das personagens poderiam sair de um conto e entrar noutro sem que nada se alterasse. Às vezes os próprios nomes são repetidos. São os mesmos os seus rituais em torno do álcool ou do tabaco. as frase que ficam a meio.

Estes contos falam-nos dessas palavras que ficam a ferver por dentro do silêncio, da incapacidade afectiva e comunicativa dentro da família, do álcool, do sexo e do desejo transbordante mas não expresso nem realizado.

Debaixo de uma escrita sem rugas, quase minimalista, sentimos a existência de tremendas tempestades subterrâneas que aparentemente não têm solução.

Askieldsen prende-nos na sua repetição. Inquieta-nos. Deixa-nos sem resposta perante as pistas inacabadas em que nos enreda, na largueza de uma paisagem de fiordes, florestas e casas onde quem chega é sempre mal recebido e em que as dores de cada um são asinaladas mas nunca explicitadas em palavras.


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