quinta-feira, 18 de setembro de 2014

AS FRONTEIRAS DA VERDADE




Javier Cercas é um dos escritores mais interessantes da actual literatura espanhola, o que não é dizer pouco porque são bastantes os escritores espanhóis que merecem referência.

Dele já tinha lido um livro emocionante, "Soldados de Salamina", um dos primeiros romances a abordar a complexidade da Guerra Civil de 36-39 e a trazer a sua memória para o romance.

Esse trabalho sobre a memória é importante, quer para a literatura espanhola quer para a portuguesa. A guerra Civil, de um lado, a guerra colonial, do outro, precisam de ser trazidas para fora dos mitos e das verdades convenientes, para serem questionados à luz da ficção que, por vezes, se torna no bisturi mais afiado para entender a história.

Este romance, que se infiltra na pele do leitor, desenvolve-se através de uma engenhosa construção dramática em torno de três personagens: Cañas, Zarco e Tere.

Zarco é um famoso delinquente juvenil em 78, finais do franquismo, um chefe de um gang marginais miseráveis e desalojados na Catalunha que começa pelo pequeno roubo e do esticão passa ao roubo de automóveis, depois aos assaltos a casas, a lojas, bombas de gasolina e, finalmente, a bancos.

Todo o gang é apanhado pela polícia, alguns morrem, e só um escapa, Cañas, o único filho da classe média que vai acabar por se tornar num advogado famoso.

Tere é outro membro do gang, uma rapariga extremamente sensual, atraente e misteriosa, por quem Cañas se apaixona e por que também se integrará no gang.

O romance é conduzido pelas entrevistas de um escritor que pretende escrever a verdade sobre Zarco.Os depoimentos de Cañas vão-se alternando com outras personagens, o polícia que prendeu Zarco e o director da prisão.


Ao longo dos anos, depois de fugas e novas prisões, Zarco vai-se tornando numa personagem mediática. Cerca de 20 anos depois, através de Tere, pede a Cañas que seja ele a defendê-lo.

E toda esta trama se torna num carrossel em que a busca da verdade nos leva a questionar o valor da memória a forma como a memória, as nossas memórias, se vão questionando e refazendo ao longo do tempo.

Sem comentários: