segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Depois do escuro


Volto a falar de Murakami, apesar da minha resistência a não me impressionar pelos best seller (um preconceito meu). Mas o Murakami fascina-me, sou fã e sempre que vem um livro novo eu não resisto a comprar e a interromper qualquer leitura. Desta vez foi “After Dark – Os Passageiros da Noite”
No livro “Underground” - Este não é um romance mas um conjunto de entrevistas às vitimas e familiares das vítimas do atentado de Tóquio do Gás Sarin, no final são entrevistados também antigos membros da seita “Verdade suprema”. A cada personagem é contextualizada a sua história e a suas acções no dia do atentado. Compreendemos, com este livro, que o que aconteceu em Tóquio em 95 foi também fruto da forma como a sociedade Japonesa se organiza em função do trabalho e da grande competição existente. Muitos dos membros da seita eram pessoas muito inteligentes e que tinham saído das suas funções para se juntar a “Verdade Suprema” no desejo de procurarem um reverso.
Após a leitura de “Underground” podemos compreender melhor a poética de Murakami.
Neste último livro voltamos a encontrar personagens solitárias que tentam fugir ao seu passado, ou ao seu quotidiano. No encontro ocasional entre estas personagens, no diálogo entre elas, começamos a conhecer a sua história: Uma estudante de Chinês, uma gerente de um hotel de amor, um trompetista estudante de direito, uma prostituta chinesa, um técnico informático, etc... O livro é narrado como se fosse um filme, ou até um vídeo-jogo. Esta clonagem que Murakami faz na sua escrita, na sua narrativa em que por vezes o livro é também o filme, uma animação, um jogo de computador ou uma música faz-me seu fã. Depois ainda recorre ao absurdo, ao impossível, ao fantástico. Tudo isso de uma forma ligeira, acessível e fácil de entender. Este autor integrasse na cultura pop contemporânea, são também muitas as referencias que faz à música pop e jazz, à pintura (neste caso à arte de Edward Hopper) e à literatura (por vezes até a literatura popular japonesa).
Cada livro de Murakami é um quadro de Edward Hopper.

4 comentários:

JOSÉ FANHA disse...

Belíssimo comentário, Tiago. A crítica literária devia ser sempre assim. Nascida do coração, do grande prazer da escrita, da asa que das palavras de um escritor nos leva ao mundo, à vida, à arte.

Margarida Botelho da Silva disse...

Bolas, Tiago... Kafka à Beira-mar ou Underground? Em qual pego primeiro. Nalgum tem que ser. E já amanhã (agora não, que estou a acabar uma releitura "inabandonável").

Tiago Carvalho disse...

O "Kafka à beira-mar" foi o meu 1º livro de Murakami, mas também o que eu gostei mais, têm personagens fantásticas - um homem que conversa com os gatos mas não com as pessoas (todos pensam que é tolo), um adolescente que foge de casa e inicia uma viagem, as referencias a literatura e à música. Está cheio de ingredientes fantásticos.

Margarida Botelho da Silva disse...

O juiz decidiu, está decidido! :-)