sábado, 16 de maio de 2009

JORGE DE SENA NO CENTRO DA POLÉMICA LITERÁRIA



De Jorge de Sena, uma das figuras mais emblemáticas das letras portuguesas, na segunda metade do século XX, acaba de ser publicado um livro, “Sobre Teoria e Prática Literária” (edição da Caixotim), que compila muitos dos seus textos sobre estas matérias. Textos geralmente de pequena dimensão, quase todos inéditos. Os temas abordados são múltiplos, guardando, quase todos, uma actualidade impressionante. A acutilância e a limpidez da linguagem, a frontalidade das posições assumidas e a originalidade de perspectivas são razões suplementares para lermos, e relermos, esta obra.
De entre os textos que a constituem, quero destacar os seguintes:

Acerca de diversas formas de escrita, em que são analisados diversos aspectos e problemas que se põem ao crítico literário.
Sobre traduções, breve notas, matéria em que Jorge de Sena é especialista. Notas breves, sim, mas a reflectirem as suas preocupações sobre as peculiaridades, o valor e o papel social das traduções. E, claro, as dificuldades com que se confronta o tradutor – por exemplo, será possível traduzir uma obra se não se conhece a cultura do país em que foi escrita?
Traduções de versos, onde se continuam a discutir problemas postos no texto anterior, concretizando-os, aplicando-os ao campo da Poesia. Quais os critérios a utilizar, qual o método científico a seguir? E conclui com uma questão pertinente: “(…) se o poeta que traduz é levado a ver a mais [“do que lá está”], quando o espírito crítico o não detém, o não-poeta vê sempre menos e não há ciência crítica que o salve.”
Modernismo e modernismo. Texto datado (1962), que interroga as diversas acepções do conceito. Além de ter um valor histórico importante (como eram colocadas a s questões estéticas naquela época, com o marxismo em pano de fundo), mostra como os verdadeiros problemas da arte atravessam os tempos.
Forma, conteúdo e tradução. Texto de 1974, em que se verifica uma evolução em relação a textos anteriores, dos anos cinquenta. Evolução no sentido de um aprofundamento de ideias já expressas: “(…) a tradução tem por fito recriar noutra língua uma dicção que se realizou numa outra. Se quisermos simplificar: o binómio forma-conteúdo que aparecer nessa obra é constituído por um binómio equivalente na língua para que se traduz (…) Assim, a tradução é uma arte que requer uma substancial dose de ciência, não apenas de artifícios poéticos, mas de linguística e de cultura histórico-literária. Grande tradução será aquela em que não se desintegrou aquela unidade estrutural que no texto havia. Tal como grande crítica é a que, ao analisar e comentar um texto literário, não esquece todos os aspectos em que ele se realiza.” Melhor e mais simples ninguém podia dizer!

Através dos textos que citei (textos referidos pela ordem cronológica da sua escrita), pretendo apenas chamar a atenção para a riqueza desta obra de Jorge de Sena, expressão do seu pensamento e intervenção na cultura da época. Obra plena de inteligência de um dos escritores mais lúcidos, cultos e criativos das últimas gerações.

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