sábado, 9 de maio de 2009

A Sul da Fronteira, A Oeste do Sol


O que fica a sul da Fronteira? Em criança, Hajime não sabia, apenas a ouvir esta música de Nat King Cole, em casa da sua amiga Shimamoto, tinha uma sensação de grande prazer que lhe ficou marcado na memória para o resto da vida. Mais tarde Haijime, narrador da sua história, experimenta essa sensação de deserto na sua vida, pela ausência de Shimamoto, percebe o que fica a sul da fronteira, um deserto, um vazio. Uma espécie de "histeria siberiana" que acontece com os camponeses na Sibéria que de repente deixam tudo e caminham rumo a uma terra que fica a Oeste do Sol até morrerem de fome ou de sede.  Ele também vai secar por completo atrás de uma aparição. Uns bons anos depois das tardes a ouvir Nat King Cole, Hajime está casado com a filha dum empreiteiro que o ajudou a abrir os seus dois bares de Jazz, é agora um empresário individualista, que esqueceu quase por completo os anos de estudante idealista. No entanto algo o vai sugar por completo a sua vida, a sua alma, a aparição de Shimamoto trás a vivência desse grande amor, dessa paixão perdida. Hajime vive uma temporada de paixão e que termina com o desaparecimento dela, o leitor fica sem saber se Shimamoto existiu apenas na cabeça de Hajime. Este acontecimento vai provocar em hajime essa morte, ele fica sem vontade, sem desejo de nada, um homem sem expressão, sem vida. 
Novamente em Murakami, encontramos o homem sozinho na imensa cidade, numa história de amor improvável ou impossível. Quase autobiográfico, este romance está cheio de beleza e sensualidade. Mas o que me faz gostar mais da escrita de Murakami é este caminhar para um precipício onde a realidade se mistura com o sonho. 
"Sentado à mesa da cozinha, segui com os olhos a nuvem que flutuava sobre o cemitério. A nuvem não se tinha mexido um milímetro. Estava parada, come se estivesse pregada no céu. "São horas de acordar as minhas filhas", pensei. Já nasceu o dia, elas têm que se levantar. Elas precisam deste novo dia de uma maneira bem mais intensa do que eu. Devo aproximar-me do quarto delas, puxar as cobertas para trás, pousar a minha mão sobre os seus corpinhos quentes e suaves, e anunciar-lhes que começou um novo dia. Tenho de o fazer, quanto antes. Foi isso que pensei, mas por qualquer razão, não consegui levantar-me da cadeira onde estava sentado, à mesa da cozinha. Finquei os cotovelos na mesa e escondi o rosto nas mãos. 
No interior daquela escuridão, pensei na chuva que caía sobre o mar. chovia em segredo no vasto oceano, sem que ninguém soubesse disso. A chuva fustigava em silêncio a superfície das águas e nem sequer os peixes se tinham dado conta.
Até que alguém se aproximou de mim e pousou suavemente a mão sobre o meu ombro, os meus pensamentos pertenceram ao mar."

1 comentário:

Catherine disse...

esperava mais deste livro, ainda assim não deixa de ser um bom livro.

http://chovemlivros.blogspot.com/

Catherine