terça-feira, 7 de junho de 2011

HADJI-MURAT



Devo confessar que me tornei perigosamente viciado em literatura russa do séc. XIX. Gogol, Turgueniev, Tolstoi, Tchekov, e até Dostoievsky, são paixões desmedidas. E grande parte desse vício devo-o ao notabilíssimo casal de tradutores que são Nina Guerra e Filipe Guerra que nos últimos anos têm traduzido directamente do russo dezenas de obras destes autores.

Entre todos estes gigantes da literatura não saberei dizer qual o que me toca mais fundo. Mas Tolstoi tem o condão de me atravessar o peito e mexer furiosamente com os meus sentimentos.

Aconteceu-me com "A morte de Ivan Ilitch" e com "A valsa de Kreutzer". Tremi ao reflectir sobre a dor e a morte na leitura do primeiro, confrontei-me com o sentimento do ciúme que nunca se tinha atravessado à minha frente tão nitidamente e terrível como na leitura do segundo.

Não foi bem o que me aconteceu na leitura deste "Hadji Murat". E é fácil perceber porquê. A novela passa-se na respiração de um tempo que está muito longe de mim na relação com o mundo em que vivo, em que nós, leitores, vivemos.

No entanto, como sempre com Tolstoi, foi uma leitura entusiasmante, que me levantou questões diversas e intensas. E é para isso que também serve a literatura.

Hadji Murat é um chefe guerreiro das montanhas do Cáucaso. Encontramos nesta narrativa tudo ou quase tudo o que é necessário para entrever as raízes históricas dos conflitos entre tchetchenos e russos.

O que Tolstoi faz de extraordinário para a época é dar um perfil de homem e de herói ao rebelde das montanhas pondo em paralelo o mundo cruel, sofisticado mas decadente da aristocracia russa e do prório Tzar, apresentado como pouco que um tonto que toma decisões ao sabor dos acasos.

Por tudo isto, o livro foi proibido até à Revolução de 1917. Percebe-se porquê. E continua a perceber-se como, retratando a jogo entre poder e revolta, decadência e vitalidade, a pena de Tolstoi continua a retratar tão intensamente os homens que governam este mundo tão imperfeito e inquietante em que vivemos.




Nesta novela (que foi proibida no tempo dos czares, Tolstoi faz uma crítica séria à superficialidade e alguma fragilidade intelectual do próprio czar, dos oficiais que estão numk dos limites do Império para pacificar

1 comentário:

MJ FALCÃO disse...

Parabéns aos 7 leitores! Boas leituras, boas escolhas, gostei muito.
Abraço
o falcão