terça-feira, 11 de agosto de 2015
QUANDO A LEITURA SE TORNA UM VíCIO
Ao fim de 60 páginas eu não sabia dizer exactamente qaul o tema deste romance mas, simultaneamente, não era capaz de parar a leitura.
A escrita do João Tordo tinha-se-me colado à pele, envolvia-me, questionava-se, puxava-me para dentro de mim como se fosse um vício insistente que não me largava por um minuto.
Neste romance, talvez o mais fundo e sério de todos os do João, a literatura vai longe. Não se trata aqui de contar uma história. Embora exista uma história. E quando nos apercebemos de que essa históttia existe levamos um tremendo murro no estômago.
Todo o trabalho do narrador em volta da palavra parece de início uma deambulação sem aparente destino em torno de tudo e de nada. Já estamos mergulhados no rame-rame duro, lento, encantatório dessa construção literária quando tudo explode dentro do nosso coração. E percebemos então que a história, a terrível história, já se tinha iniciado há muito tempo, antes até da leitura. Apanhámos a história a meio caminho. E ela continua e leva-nos num ritmo implacável talvez muito para lá do próprio romance.
Uma ilha canadiana. Gente com diversas origens. Um lugar de solidão e questonamento perante o céu, o mar, a vida.
Trata-se de um lugar que pode ir ao fundo como foi a casa do poeta Drosler com todos os seus dários e memórias. Um lugar de expiação de culpas e de exílio. Um lugar onde o narrador procura esquecer a culpa exilando-se de si próprio.
A escrita de João Tordo parece simples e perturba. Parece falar de coisas vulgares e toca nos grandes temas e angústias da nossa existência.
Acima de tudo, não nos dá o consolo de nenhuma certeza. Apenas o júbilo de sentir como a literatura nos pode levar longe. Muito, muio longe.
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