“Outras Cores” de Orhan Pamuk
Ensaios sobre a Vida, a Arte, os Livros e as Cidades.
Editorial Presença
Há livros que lemos num sopro, cumprem o seu papel no tempo mais
superficial ou profundo da sua agradável leitura e vão para a
estante. Alguns regressam, outros só nos passam pelas mãos em
limpezas de pó. Há os que, para lá da sua importância literária, marcam um lugar e um tempo. Alguns são lidos em tempos longos. Pegamos neles e largamo-los ao sabor
da nossa disposição, de tarefas, de outros livros que se
atravessam, de outras urgências maiores que nossa vontade.
Há livros para voltar, para carregar em
todas as mudanças, para falar deles aos filhos mesmo que, aparentemente, não nos
ouçam, porque na vida não levamos mais nada do aquilo que temos, inexplicavelmente,
dentro de nós, quando partimos de um lugar.
“Outras Cores” é um livro de ensaios que anda comigo há muito tempo, a data de compra remonta a 2009, foi sendo lido. Não está ainda esgotado. Vai continuar comigo. Muitas vezes aberto ao acaso, relido como um destino.
As sérias e sentidas reflexões revelam-nos um autor que se constrói com a
escrita. Como, ainda há pouco tempo, dizia, numa conversa, a propósito do seu último
livro "Dentro de Ti Ver O Mar", a escritora Inês Pedrosa, na livraria Arquivo.
Ainda não esgotei este livro por dentro e por isso não sei se é tempo de
falar dele. Mas nem sei quando seria. Trago-o aqui na sua incompleta releitura
e entendimento. Vale a pena ler.
“Neste mesmo lugar, há muito tempo”
Quanto tempo demoramos a escrever uma linha. Por vezes mais do que o tempo
de escrever páginas inteiras. E, por vezes, uma linha muda tudo e nada fica igual depois de escrita.
Será possível equilibrar o vivido e o escrito como uma construção em que não nos envolvemos?
Será possível equilibrar o vivido e o escrito como uma construção em que não nos envolvemos?
Terá Miguel Ângelo ficado imaculado de tinta na tarefa de pintar a capela?
E seria ela o que é se o tivesse feito em breve tempo? A arte de cada um é
singular, bem como o seu tempo de chegar. O seu mérito e valor é sujeito à
poeira do tempo. Mas é sempre um longo caminho acidentado de subidas
irregulares e descidas traiçoeiras, o da escrita como a da vida.
"Um Apontamento Sobre Justiça Poética”
Sobre como um escritor carrega o ser pequeno que foi dentro de si.
“Olhar pela janela”
Revendo um episódio de infância que coloca pessoas de diferentes gerações e
diferentes geografias próximas no tempo e no espaço.
Pamuk levou-me de novo a Tristan Shandy. Às histórias das Mil e uma Noites,
adiadas, reinventadas. Relembrou-me “Os Buddenbook” de Thomas Mann. O necessário repensar dos
laços familiares.
“Política e refeições familiares nos feriados religiosos”
O quotidiano das refeições que, mais que um milagre de fazer acontecer
alimentos sobre a mesa, são momentos de rituais onde se passam testemunhos.
Deviam ser.
"Em
Kars e Frankfurt"
A tentar
perceber como eram são as expectativas da Turquia face à Europa.
Agora que se
tornou mais fácil para todos a necessidade de rever a Europa. Não como um bloco
uno, de onde um entra e outro sai mas como um conjunto dinâmico onde todos contam.
É preciso entender esta Europa que se
desfaz ou se refaz consoante o maior ou menor pessimismo que carregamos. Somos nós
que levamos água aos moinhos. Somos nós que combatemos os gigantes que vemos em
moinhos.
A entrevista que Pamuk deu à Paris Review, feita entre Março de 2004 e
Abril de 2005, pelo meio das suas posições politicas na questão Curda/Arménia.
"Nove
apontamentos sobrecapas de livros". Que nos coloca perante o que importa ainda e sempre que falamos do livro papel/digital.
Pamuk nasceu em 1952. Em Istambul. “Cresci
numa casa em que todos liam romances”, diz ele. Uma sorte, digo eu.
E agora se me
perguntassem: então se fosses para uma ilha deserta que livro levarias?
Nenhum.Na verdade não me apetece ir para nenhuma ilha deserta.
Apetece-me um sitio cheio de gente, uma biblioteca perto, livrarias, frutarias, um antigo mercado, um jardim e risos de crianças. Outras Cores...
Nenhum.Na verdade não me apetece ir para nenhuma ilha deserta.
Apetece-me um sitio cheio de gente, uma biblioteca perto, livrarias, frutarias, um antigo mercado, um jardim e risos de crianças. Outras Cores...
Sílvia Alves
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