quinta-feira, 15 de maio de 2014
BOM DIA SENHOR ESCRITOR
Álvaro Laborinho Lúcio é um homem com um currículo excepcional que inclui a direcção do Centro de Estudos Judiciais, o cargo de Ministro da Justiça e o de Juiz do Supremo Tribunal de Justiça
Figura grande na sua dimensão intelectual, moral e ética, grande senhor da comunicação, homem de inteligência brilhante e viva. E, por fim, devo dizer que o Àlvaro Laborinho Lúcio faz o grande favor de ser meu amigo. Cruzámo-nos muitas vezes nas voltas da vida, em palcos diversos, em defesa da cidadania. Acontece-nos aquele fenómeno que só nas grandes amizades é possível. Um de nós chama pelo outro e o outro responde imediatamente.
A vida do Laborinho está cheia de histórias. Conheceu as personagens mais estranhas e invulgares, as mais comoventes, as mais perdidas.
Agora, que está reformado, resolveu passar à escrita as histórias dessas personagens. Como quem põe em cena uma peça de teatro, criando um dédalo de espaços que, tendo entre si muitos anos de diferença, se tornam vizinhos de um mesmo palco, de um mesmo respirar, de um mesmo tempo, que é o tempo da palavra, o tempo da narrativa em que todos os tempos e todos os espaços convivem lado a lado.
"Eu não quero ser um reformado a escrever memórias." diz ele com muita convicção, "Quero ser um escritor!"
É fácil entender a diferença. O meu amigo Laborinho quer pegar na matéria da sua tão vasta vida e trabalhá-la na banca da palavra. Não quer contar o que lhe aconteceu. Quer pegar naquilo que lhe aconteceu e amassá-lo na farinha de uma arte maior até se tornar em pura literatura.
Quer ser um sapateiro das palavras. E um sapateiro é sempre um artista. Deve ser um artista. Ou melhor, o artista deve ser um sapateiro. Um cose solas e espera ver os seus sapatos a correr as ruas do m undo. O outro cose palavras e espera vê-las correr os dedos e os olhares e os corações de quem as vai ler.
"O Chamador" é um livro que conta histórias de 23 personagens, todas elas justamente convocadas ao palco da ficção pelo chamador, figura inspirada na paixão de Laborinho pelo teatro e pela extraordinária figura que vem das suas memórias da Nazaré, o velho que, pela noite, ia de porta em porta, a chamar os homens da companha para se juntarem no barco que ia fazer-se ao mar.
A escrita é envolvente, densa, complexa, cheia de ternura e de verdade, mesmo quando a verdade é dura. E tudo caminha como se a escrita envolvesse os tempos idos numa narrativa errática, dando-lhes corpo ou fazendo-os desaparecer, numa espécie de nevoeiro fantástico que os pega nas suas personagens, dando-lhes carne e sangue ou deixando-as como fantásticos fantasmas a caminhar no palco da escrita.
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