sábado, 20 de agosto de 2016
O AMOR EM LOBITO BAY
“O AMOR EM LOBITO BAY”
LÍDIA JORGE
Lídia Jorge é uma grande senhora da literatura portuguesa que escreve do alto de uma enorme elegância e de um rigor pouco comuns, sem que, no entanto, as suas narrativas se furtem ao lado mais duro e inquietante da humanidade.
Estes contos são atravessados por um sopro de estranheza e de inquietação. Subvertem mas também procuram encontrar um caminho de pacificação.
Surgem inofensivos, sem sobressaltos, sem anunciarem a dimensão que depois surge à medida que se vai caminhando na narração.
Serão talvez desiguais, embora sem nunca deixar a elegância e o rigor da escrita. Embora sejam contos há uma estratégia de escrita que os atravessa a todos, uma atitude permanente e sublinhada em relação à forma de olhar para o mundo e para a humanidade que os conduz a todos como num percurso que se pretende unificador.
Alguns emocionaram-me, entusiasmaram-me, fizeram-me pensar: “Boa, minha amiga! Acertaste no alvo com o melhor do teu talento!”
Nesse sentido, a “Imitação do êxodo” é um conto notável e impiedoso relativamente a uma certa vulgata pedagógica e bem intencionada mas que impõe boas intenções numa cegueira que não presta nenhuma atenção nem respeito pelo profundo olhar da criança.
O conto que dá o título ao livro “O amor em Lobito Bay”, depois de nos expor ao horror do ritual com que uma criança pretende tornar-se no melhor corredor do mundo e que é salva desse ritual por um secreto sentimento de bondade, de poesia e de solidariedade familiar .
“Overbooking” parte de uma extraordinária vitória por 9-2 num jogo de futebol. Mas torna-se terrível, assustador e, no entanto, revela-nos a necessidade de perdão que todos temos para os pequenos e grandes “crimes” de que alguns serão capazes em momentos únicos da sua vida.
Será sempre um prazer raro partilhar com Lídia Jorge a arte que a leva a percorrer os caminhos inquietantes e exaltantes da literatura.
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