quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
AS LIÇÕES DOS MESTRES
George Steiner, um dos mais brilhantes e fecundos pensadores da actualidade, proferiu, no ano lectivo de 2001-2002, na Universidade de Harvard, um conjunto de lições-conferência, que a Gradiva editou sob o título “As lições dos Mestres”. A obra trata, em última instância, de um só tema: as relações entre mestres e discípulos (e não propriamente entre professores e alunos). Relações analisadas sob diversos ângulos e ao longo dos vinte e cinco séculos da civilização ocidental - da Grécia Clássica aos dias de hoje. Portanto, em diversas regiões e países, em diversas culturas.
A viagem que Steiner faz, através dos tempos, é apresentada sob a forma de um ensaio, onde sobressaem a erudição, a inteligência, a capacidade do autor em relacionar situações e conceitos. O que, inevitavelmente, confere à obra um brilho que ofusca o leitor, pelo menos, numa primeira leitura.
Como se relaciona o mestre com o seu discípulo e o discípulo com o seu mestre? Como têm evoluído essas relações e que aspectos específicos assumem, nas diversas culturas? A influência do mestre faz-se preferencialmente através do ensinamento oral ou pelo texto escrito? Pela liberdade que concede ao discípulo ou pela imposição que sobre ele exerce? Pelo exemplo ou pela persuasão? Pela criação de condições de aceitação da sua mensagem ou pela oposição que provoca? Enfim, estes aspectos (e alguns mais) são analisados, aprofundados, numa linguagem fluente, rica. Mas, depois de tudo isto, o que nos fica? O brilho da palavra de um mestre (George Steiner), que talvez não faça – através deste livro – muitos discípulos... Por várias razões: a) porque as suas lições foram elaboradas para serem proferidas perante um auditório americano (não para serem lidas por um leitor comum); b) porque a erudição que alardeia esmaga qualquer "discípulo"; c) porque o volteio em que o seu discurso se situa é mais orientado para ofuscar, do que para levar o outro a pensar. E, talvez mais do que foi dito, porque é uma obra datada, centrada no "teaching" tradicional (e não no "learning"). Ou, por outras palavras, no "Master" e na sua "Lesson", o que não quer dizer que não seja uma obra muito interessante, construída dentro da boa tradição da docência oral de um "mestre pensador." Portanto, uma obra a ler por aqueles que fazem do ensino a sua profissão e da palavra a sua vocação!
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