sexta-feira, 2 de abril de 2010

5 DE OUTUBRO

Estudar História é, ou devia ser também, mergulhar nas histórias de que é feita a História.

A ficção que se constrói sobre temas históricos traz-nos o cheiro de uma época, os tiques, os maneirismos, o recorte das principais figuras, as suas ansiedades e desejos, os seus amores.

A ficção não substiui mas contribui e muito para dar carne à matéria abordada pelo ensaio e pela investigação histórica.

Estamos em plenas comemorações do centenário da República. Têm sido dados à estampa alguns romances cuja acção incide directamente sobre os anos imediatamente anteriores e posteriores à implantação da República. Vale a pena visitá-los e fazer dessa visita uma forma menos pomposa mas mais apaixonante de comemorar o centenário do 5 de Outubro.

Lembro-me de alguns como "Café República" de Álvaro Guerra, "O milagre segundo Salomé" de José Rodrigues Miguéis, e mais recentemente "As Cidadãs" de Maria Filomena Beja, "O destino do Capitão Blanc" de Sérgio Luís de Carvalho, "1910" de António Trabulo e este "5 de Outubro" de Lourenço Pereira Coutinho.





O autor dá-nos neste romance um painel cheio de cor social e humana da teia fervilhante onde, entre encontros e desencontros, se faziam e desfaziam planos de muitos atentados, revoltas, compromissos políticos, conluios, conspirações que enredavam a sociedade portuguesa nos meses anteriores ao 5 de Outubro.

Por aqui se cruzam os republicanos, os monárquicos, os revolucionários, os moderados, os carbonários... A escrita ritmada e ligeira leva-nos a espreitar momentos da vida, das aspirações, dos amores de personagens tão importantes como o próprio Rei D. Manuel, José Relvas, Afonso Costa, Machado dos Santos, Paiva Couceiro...

Do Palácio das Necessidades à redacção do jornal A Lucta de Brito Camacho, do Hotel do Buçaco às barricadas da Rotunda, da casa dos Patudos em Alpiarça aos almoços no Tavares Rico e aos encontros clandestinos nos Banhos de S. Paulo, o autor passeia a nossa curiosidade por uma sociedades ligeirota e talvez pouco consistente, mas carregada de emoções excessivas.

A monarquia cai porque está pronta a cair. E cai sobretudo pela teimosia de Machado dos Santos, um visionário que na noite de 3 de Outubro, contra tudo e contra todos, entra com os seus carbonários pelo quartel de Infataria 16 e começa uma revolução em que parece que ninguém acredita a não ser ele próprio.

Em certos momentos parece ser uma revolução de opereta e nalgumas peripécias inesperadas é inevitável encontrarmos uma ou outra semelhança com a Revolução do 25 de Abril.

Quanto ao romance, deixa-se ler muito bem e isso já é dizer bastante.

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