sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ALGUMAS QUESTÕES ACERCA DE PUBLICAÇÕES PÓSTUMAS




A publicação do texto de Vladimir Nabokov, “ O Original de Laura” (numa bela edição da Teorema), vem uma vez mais suscitar a questão da publicação de obras inéditas de autores falecidos, autores que, declarada ou implicitamente, não queriam essas obras publicadas. E fá-lo com uma agudeza gritante, não só pelo conteúdo do texto ( apenas fichas, por vezes esparsas), como também por ser publicado contra o pedido expresso da sua destruição, caso ele não tivesse sido concluído antes da sua morte.
Se há casos em que se justifica uma publicação que o autor não queria que o fosse (KafKa é o exemplo clássico) e se noutros se pode descortinar uma razão, outros há em que se não vislumbra qualquer justificação. Caso interessante é o da obra de Truman Capote, “Travessia de Verão”, obra de juventude editada pela D. Quixote, uma novela cheia de frescura mas de escrita por vezes um tanto incipiente, embora promissora. Texto que não acrescenta à glória do autor mas que permite compreender a evolução do seu estilo. Enfim, questões a discutir, com respostas variáveis , consoante a postura dos intervenientes. O que não é o caso da “obra”(?)de Nabokov, que, embora publicada com os cuidados possíveis, nem de perto nem de longe apresenta qualquer semelhança com uma obra literária. Creio que a melhor solução teria sido depositá-la numa biblioteca para consulta de estudiosos interessados em aprofundar o mundo obsessional do autor ( a morte, o sexo, o amor).
Esta é apenas uma opinião que vale o que vale, e que tem como finalidades provocar a reflexão dos meus leitores sobre o problema da pertença da obra literária ao seu autor e da legitimidade de dispor livremente dela, sabendo que a sua vontade será respeitada mesmo para além da sua vida e levá-los a discutir as condições em que ela pode (e deve) ser desrespeitada em função de um juízo de interesse público. Feito por quem e com que legitimidade? E com que critérios?

1 comentário:

Alda Couto disse...

Não me parece legítimo, interesse público ou não, que a obra de qualquer autor venha a ser publicada à sua revelia.