Diário
(1941-1943)
Etty Hillesum
Colecção Teofanias
(dirigida por José Tolentino Mendonça)
Assírio e Alvim
Etty Hillesum, jovem judia de 27 anos, escreveu, entre 9 de Março de 1941 e 13 de Outubro de 1942, um diário
em oito cadernos. Desses
escritos saiu este “Diário” breve, profundo e intenso de uma vida também breve
e intensa, em tempos fatalmente trágicos que desafiaram toda a resistência
humana ao sofrimento e à humilhação.
Etty, que morreu antes de completar trinta anos, foi um
espirito crente em Deus que não renegou a sensualidade do corpo nem a
beleza de um mundo marcado pelo sofrimento. Toda a sua escrita é dotada de uma
forte espiritualidade ancorada ao amor e à consciência do corpo, invulgares no
feminino da época em que viveu.
Quando, em 1942, Etty foi enviada para o campo de concentração Westerbork (morreu, em 1943, em Auschwitz) levou consigo a
Bíblia, “Cartas a um Jovem Poeta” e o “O Livro de Horas” de Rilke por quem
tinha uma profunda admiração. Leitora compulsiva teve na literatura mais que a
sua outra pátria o lugar da própria vida.
“(…)Trago sempre o Rilke à baila. É tão estranho, ele era um
homem frágil e escreveu muita da sua obra dentro dos muros dos castelos hospitaleiros
e talvez tivesse ficado completamente destroçado em circunstâncias com aquelas em
que vivemos actualmente. Mas não demonstrará boa economia que, em épocas tranquilas
e em circunstâncias favoráveis, artistas sensíveis possam procurar livremente
as formas mais belas e adequadas para as suas convicções mais profundas, que dão
às pessoas em épocas mais agitadas e extenuantes um apoio e um abrigo para
confusões e perguntas que ainda não tomaram uma forma e uma solução próprias,
porque as energias diárias são reclamadas pelas aflições diárias? Em tempos difíceis as pessoas têm o costume de, com um gesto
desprezível, deitar fora as conquistas espirituais de artistas das chamadas
épocas fáceis (ser artista é em si mesmo já é bastante difícil, não é?), com o
acrescento: Para que é isso nos serve?”
Talvez seja compreensível, mas é tacanho. E infinitamente empobrecedor.(…)”
Talvez seja compreensível, mas é tacanho. E infinitamente empobrecedor.(…)”
Os livros encerram em si a vida que presenciaram e são eles
que nos amparam quando tudo o resta nos falta. Cada livro será sempre um singular e certo abrigo.
Bom ano para todos os leitores.
Que sejam tal como Etty se
afirmava: depositários de preciosos fragmentos de vida, responsáveis pelo
sentimento grande e belo que a vida inspira e pelo dever de o tentar
transportar intacto através desta época para atingir melhores dias.
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