domingo, 10 de junho de 2012

RACISMO E PRECONCEITO





Ao longo deste belo livro veio-me à memória com frequência uma frase que sempre achei algo misteriosa e só acessível à “filosofia” de certos frequentadores habituais de alguns bares quando pedem ao barman: “Um whisky com água lisa”.

A história de Pepetela, inspirada em acontecimentos reais, é-nos dada numa prosa lisa.

Apetece dizer que uma boa história é uma história é uma história. E é isso mesmo que Pepetela nos oferece: um bela história de amor desenvolvida num ritmo certo e sem sobressaltos,

Tudo se desenvolve por vezes com alegria, por vezes com desespero, por vezes com melancolia, sempre numa prosa delicada e sem rodriguinhos nem desvios.

Pensando bem, talvez não seja apenas uma história. Talvez sejam duas.

A principal é a história de amor entre um angolano e uma mongol iniciada em Moscovo nos anos 60 e terminada nos anos 90 ou 2000 em Cuba e finalmente em Angola.

A outra é a história da queda e transformação política sofrida nestes tempos nos países ditos socialistas, desde a URSS aos países africanos e Angola em primeiro lugar.

Pepetela não esconde nem o amor á sua terra de Angola, nem o racismo, o preconceito, o abuso, a injustiça, onde quer que eles surjam, na Rússia ou na Mongólia socialistas, na Argélia recém-independente ou na Angola que vemos no seu processo de conversão ao capitalismo e nos é mostrado tamém sem disfarces nem acertos de contas.

O personagem principal, branco, nacionalista, revolucionário, vai de Angola no início dos anos 60 para a Universidade de Coimbra e, depois de vários desvios, para Moscovo onde estuda Economia e adquire treino militar. Combatente na guerra colonial, herói reconhecido, promovido a general, reforma-se e convive com os novos tempos sem se deixar corromper .

O amor, nunca traído ou substituído, reaparece quando o fim da vida se anuncia.

Seria fácil pegar nesta história verdadeira e levá-la à ponta da lágrima. Mas Pepetela, de dentro da sua excelente oficina de escritor, leva a narrativa sem tremeliques, numa escrita limpa, forte, correcta e lisa como a tal água do whisky.




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