Eugénio
Lisboa
Vário,
Intrépido e Fecundo - uma Homenagem
Opera
Omnia
“Apareceu este ano em Portalegre, como oficial miliciano, o aspirante
Eugénio Lisboa, que é um dos rapazes mais inteligentes que em toda a minha vida
tenho conhecido” Graças a ele tenho tido, no café Central, conversas como julgo
nunca tivera em Portalegre”
A anotação de 1954 no “Diário” de José Régio
é referida por João Francisco Marques num livro que reúne testemunhos sobre a pessoa e a obra de Eugénio Lisboa, publicado pela editora
Opera Omnia com organização de Otília Martins e Onésimo Teotónio de Almeida.
Diversos, escritos uns mais para o homenageado, outros mais para o
leitor, em total liberdade de quem os escreveu, por
conseguinte desiguais.
Trago aqui este livro como exemplo da necessária atenção, que muitas vezes
não damos, à pessoa atrás da obra, a quem não é alinhado mas pensa e tem um
discurso próprio. Falta-nos em muitos casos este registo, o de testemunhos de
convivência. O valor de um pensador é para lá da obra o rastro de influência
nos outros e nas suas obras.
Das obras será o tempo o exator. Mas a pessoa precisa de ser ouvida no
tempo certo de partilhar de viva voz a sua insubstituível experiência.
Sobretudo, sendo uma pessoa como Eugénio Lisboa, com uma vida de actividades
plurais, dividida por vários espaços geográficos e mentalidades, desde
Moçambique onde nasceu e viveu 38 anos, a Inglaterra, Lisboa, África do Sul,
Suécia e agora Portugal. Há uma ideia de Portugal só possível em quem vê o país
na distância, como acontece, também, por exemplo com Rentes de Carvalho ou
Eduardo Lourenço.
O livro termina com uma entrevista que é uma breve,
assertiva mostra da pertinência do pensamento e opinião de Eugénio Lisboa:
“(…)Somos um país pobre, mas somos sobretudo um país em que os poderes políticos
não gostam de gastar dinheiro com a cultura nem com os seus agentes que são,
por regra, incómodos.(…)” Eugénio Lisboa.
Sem dúvida, infelizmente, actual.
Estes setenta e três testemunhos, incluindo os organizadores da obra, de muitas figuras do nosso quadro literário e intelectual, são também
uma espécie de retratos dos próprios, pois o reflexo de cada um nas palavras
que dirigem ao homenageado revela-nos, também, a forma de cada um estar e ver o
mundo.
“Desconfio das torres de marfim, e Eugénio Lisboa também. As suas
conferências, os seus ensaios, as suas críticas têm sempre algo de muito
especial e próprio. Cada citação, cada referência corresponde à ênfase
necessária e adequada de um sentido crítico. E se gosto de ouvir a cadência das
citações, a verdade é que as referências de Eugénio encantam-me especialmente,
porque sei que trazem consigo o lastro seguro de todo o contexto em que nascem
e vivem. (…) através de Eugénio Lisboa sabemos com o que contamos. Sabemos que é um
leitor criterioso (ensinando-nos a ler), que nos dá a sua perspectiva exigindo
que ao lermos sejamos fieis a um sentido crítico pessoal e próprio. Percebe-se
pois porque digo que não há dois Eugénios, escritor e engenheiro, há uma
personalidade coerente e rigorosa, em que o espirito geométrico e o espirito de
fineza se completam, em que o engenho e a cultura formam um só carácter.”
Uma citação do texto escrito pelo Dr. Guilherme d’Oliveira Martins que reflecte bem o sentimento de quem lê, com
gosto, o ensaísta, o crítico,
Eugénio Lisboa.
Sílvia Alves
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