segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

OS ROSTOS ANTERIORES


A escrita de Transtromer é discreta, súbtil,intensa e deslizante.

Neste livrinho recorda alguns momentos da sua infância. Não tem grandes objectivos. Apenas deixar que as lembranças olhem para ele já velho e o confrontem com calma e amenidade mesmo quando falam de momentos menos alegres.

“Trago em mim os meus rostos anteriores como a árvore tem os anéis da sua idade. O que eu sou é a soma de todos esses rostos. O espelho só vê o meu rosto mais recente, mas eu conheço todos os anteriores.

O trabalho de escritor de Transtromer poderia ou deveria ser o de cada um de nós. O que ele faz é escrever para que alguns lampejos do seu passado lhe iluminem o presente e para que outros, tornados palavras , permitam sarar alguma ferida que possa ainda estar aberta.

Este livrinho não tem uma história mas várias pequenas histórias. Como todos nós as temos.Ensina-nos a olhar para trás através do exercício da escrita ou, como ele diz,faz com que a escrita leve o passado a olhar para si.

Uma da histórias é sobre aquilo que hoje se chama bullying e que dantes apenas se chamava abuso.

Na escola primária um colega maior que ele todos os dias o atirava ao chão. E ele protestava e o colega ontiuava a atirá-lo ao chão. Até que o pequeno Tomas resolveu deixar-se cair mal via o colega. E ele desistiou de o atirar ao chão. Já não tinha graça.

Fiquei parado a sorrir perante esta historinha e estas aprendizagens que também fazem parte do processo de crescimento. É claro que a nossa democracia exige a protecção dos mais fracos. Mas o confronto com os obstáculos e a sua suplantação, pelo uso de estratégias próprias ou pelo apelo às regras do comum convívio é fundamental.

Seria bom, de qualquer maneira, se cada um fizesse como Tomas Transtromer um caderninho de lembranças para arrumar dores, confrontar tempos, dar sentido às rugas.

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