sábado, 21 de dezembro de 2013
RUI HERBON E A GRANDE LITERATURA OCULTA
A literatura de um povo não é feita apenas pelos grandes nomes que os meios de comunicação ou as academias consagram. Também os que sabem escrever e se distinguem pela originalidade dos temas abordados têm lugar de destaque na literatura desse povo, embora não tenham a projecção de outros autores. Neste caso, está Rui Herbon, autor, entre outras obras, de “O Prazer dos Estranhos”, edição da Colibri. Os contos deste livro, além de estarem muito bem escritos, têm como temas situações e enredos em que a realidade (quase sempre histórica) e a fantasia se conjugam de um modo perfeito. Mas, o que mais me impressionou foi a construção sintáctica do texto, em que avultam a riqueza e o emprego inesperado dos vocábulos, o que dá um ritmo específico à frase. Exemplo do que acabo de dizer, é o conto “A Mulher Mais Bela do Mundo”, que me deslumbrou pelo seu ritmo camiliano, embora sem arcaísmos ou neologismos, mas que, à semelhança das obras de Camilo, impregna a narrativa de um fio de ironia que dá um sentido imprevisto à história.
De sobressair será também a cultura literária de Rui Herbon, que lhe permite navegar por diferentes mares e horizontes, como é, entre outros, o caso do conto “O Mercador de Livros”, com um final tão inesperado quão “quixotesco”.
Todos nós, os que se dedicam à leitura de obras literárias durante dezenas e dezenas de anos, somos influenciados por autores que nos disseram algo em determinado momento da nossa vida. Ora, no meu caso, nunca poderei esquecer as obras de Papini, autor italiano da primeira metade do século XX, hoje apenas lembrado pelos que se dedicam à literatura italiana. Ora, a escrita de Rui Herbon tem muito de Papini, nomeadamente nos temas abordados. Neste aspecto, não posso deixar de destacar uma obra prima de Papini, intitulada “Gog”.
Enfim, esta é a minha leitura de “O Prazer dos Estranhos” de Rui Herbon, autor de quem muito ainda há a esperar.
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2 comentários:
Obrigado pela introdução ao autor. Fiquei curioso...
Conheço o Rui há imensos anos e embora não sejamos amigos chegados lembro-me dele na secundária! Era um estudante genial que se dava ao luxo de corrigir os professores nas aulas. Genial mesmo!
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