segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O FEITIÇO DE BARCELONA



Cada grande cidade tem os seus grandes (e pequenos) escritores. Ainda não conhecia Juan Marsé. Estava ansioso por lê-lo. E fi-lo passeando pela sua Barcelona pobre e misteriosa, cheia de personagens invulgares e de feridas da Guerra Civil e fui seguindo pela Barcelona que conheço, aquela que me foi trazida palavra a palavra por Vazquez Montalban e por Zafón.

Cruzam-se aqui duas grandes histórias, uma realista e cheia de dores e pe1quenas tragédias, numa Barcelona com grente estranha e louca, gente grande e generosa, gente que guarda na pele a memória da guerra e continua uma militância política cuja dimensão épica se esvai na areia do tempo.

Uma menina tísica espera pelo pai, revolucionário e pistoleiro fugido em França. Um companheiro do pai conta-lhe a história de como ele foi arrastado para Xangai numa aventura que parece um filme da série B, com nazis, tríades chinesas, mulhlíssimas misteriosas.

A arte de Marsé está, em primeiro lugar, nas personagens que cria: o capitão Blay que percorre as ruas da cidade envolto em ligaduras como se fosse o Homem Invisível, a senhora Anita, muuitíssimo sensual, bilheteira de um cinema e alcoólica, os dois irmãos que vendem livros de quadradinhos em segunda mão e recolhem folhas aromáticas que levam à menina que sofre dos pulmões, o homem que tem o poder nas mãos de aquecer e tratar um joelho ou as dores de cabeça de alguém.

Em segundo luigar, Marsé liga magnificamente os dois fios narrativos, deixando-nos até ao fim presos a essa forma notável de nos chamar ao convívio com o desejo, o sonho desmedido e uma imensa melancolia.

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