segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

“Não quero ser uma árvore, quero ser o seu significado.” Orhan Pamuk



Do Longe e do Perto

Quase-Diário

Yvette K. Centeno

Editora Sextante


“Do Longe e do Perto Quase-Diário” é um livro de Yvette Centeno, senhora dona de uma bela voz literal e literariamente falando, que se lê como um passeio pelos campos. Campos de erva, arbustos, árvores, flores, numa desordenada ordem ou numa ordenada desordem. É leve e profundo e fresco

“No Outono já sei o que quero fazer. Plantar. Romãzeiras perto da casa.”

Gosto desta ideia, nos dias de todas as queixas, plantar árvores. Uma ideia de futuro, símbolo de esperança e de paciência para esperar os frutos.

Há neste livro o retrato do nosso mundo de hoje, um mundo de lonjuras que virtualmente ficam próximas e de proximidades que não sabem como vencer a distância de um olhar.

Andamos, como há mil anos, a aprender a arte da vida usando equações que têm cada vez mais incógnitas. Os resultados, nunca exactos, são o olhar e o sentir de cada um.

Há rituais que sabem bem, como este onde me cruzei com este livro e com a sua autora, as Correntes d’escritas, na Póvoa de Varzim, doze anos a crescer e, mais que isso, a consolidar uma ideia de celebração do que é a nossa mais profunda humanidade: a palavra e os mundos que ela constrói para serem habitados dentro do nosso. As palavras com que celebramos o brilho dos olhos dos amantes e a magnitude das estrelas.

“O Sol renova os dias, mas os dias não me renovam. Virou-se a página sobre quantas folhas passadas sobre quantos livros lidos que me fariam falta. São livros que guardam os segredos da alma, ficarei sem os saber”.

Sempre que abrimos um livro e nele encontramos uma alma que nos segreda ficamos redimidos por aqueles que ainda não visitámos.

Gosto de ler mas não vou a correr ler outro, vou ficar mais um tempo a reler este: quase-diário, do longe e do perto, da vida e do tempo solar e lunar de que somos feitos, na exacta medida do coração para o qual se inventaram as romãs. Para, calma e pacientemente, bago a bago, ensaiar arte do amor.

Sílvia Alves

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