quinta-feira, 8 de setembro de 2011

GOLPE SOBRE GOLPE



Na linha de Le Carré, Boyd conduz a acção no fio da lâmina, golpe sobre golpe, criando uma história verdadeiramente inquietante, numa sequência imparável de obstáculos à busca da verdade por parte do personagem principal, Adam, que se viu envolvido num assassínio com que não tem nada a ver e que acaba perseguido pela polícia e por um mercenário encarregue por uma grande empresa de o encontrar e matar.

O livro lê-se de um fôlego. Talvez o ritmo trepidante quebre no último terço ou então deveria o autor terminar a narrativa um pouco mais cedo.

O fulcro da questão é uma multinacional farmacêutica que pretende lançar um remédio supostamente revolucionário para a asma, escondendo o facto de que os últimos ensaios foram negativos e contam-se inúmeros casos de crianças que morreram após tomar o remédio.

Adam, jovem e brilhante especialista em climatologia, tem duas hipóteses: entregar-se ou não se entregar à polícia. E esta alternativa vai determinar toda a acção.

Resolve não se entregar e desaparece. Torna-se num sem abrigo, num não-existente, e vai aprender a sobreviver na grande cidade de Londres sem identificação, sem comunicações, sem dinheiro nem cartões de crédito.

Sofre os truques duros da vida sombria das zonas negras da cidade. Mas descobre também o amor quando se apaixona pela prostituta que começa por assaltá-lo e agredi-lo.

Quando a vida miserável dos dois e do filho dela começa a tornar-se de alguma forma consolador e confortável, o perseguidor encontra-lhes o rasto e mata-a.

Adam, no entanto, segue em frente. A partir de pequenos pormenores vai reconstruindo uma nova dida.

O autor mostra como um homem que sabe e está habituado a pensar é capaz de sobreviver, de elaborar informação, de usar a seu favor as mais dramáticas contrariedades.

Adam, o sem nome e sem abrigo arranja um nome falso, documentos, e começa a institucionalizar-se embora sempre numa espécie de clandestinidade. Arranja uma nova personalidade. Volta a apaixonar-se, agora por uma polícia a quem não se revela. Arranja casa e emprego no hospital onde morreram as crianças afectado pelo remédio contra a asma. Vasculha o registo informático dos testes e as circunstâncias das mortes.

Finalmente, com a ajuda de um jornalista especializado em remédios e farmacêuticas, Adam consegue desmascarar a multinacional e resolver a questão do assassinato e impedir a empresa a novos testes ao remédio e, assim, adiar os esperados milhões de lucro.

É claro que apenas se arranhou a superfície dos interesses económicos que tudo justificam em nome do lucro.

O romance tem como pano de fundo o retrato do ultra-liberalismo que comanda o mundo em que vivemos.

Várias vezes ao longo da leitura me veio à memória “O fiel jardineiro” de Le Carré. É a mesma problemática embora na arte da narrativa, Le Carré seja um mestre difícil de igualar.


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