quarta-feira, 19 de outubro de 2011
A CRISE NA LITERATURA ou A LITERATURA DA CRISE
Camilleri foi autor de guiões para televisão e de uma série de romances de cariz policial que tem como personagem principal o inspetor Mantalbano (cujo nome é óbvia homenagem ao escritor catalão Manuel Vasquez Montálban, por sua vez autor das aventuras do detetive particular Pepe Carvalho).
A escrita de Camilleri é ligeira, rápida , recebendo obviamente a influência da escrita para televisão e cinema. Uma ou duas pinceladas breves dão-nos a personagem. Não se perde na volta da palavra. Investe na situação, Avança na narrativa. Não dá muito descanso a quem lê.
Este romance é muito apropriado a estes tempos de crise. Passa-se em Itália, entre gestores, directores e administradores de um grande grupo económico.
Estas personagens vivem mergulhadas numa girândola de golpes e contra-golpes, corrupção, mentiras, ausência absoluta de valores éticos, jogo de influências, violência, traições, baixa política, promiscuidade a todos os níveis, sexo obsessivo.,
Explicado com clareza temos aqui um retrato cru e frenético do neo-liberalismo (especificamente do italiano no caso) e do desastre a que tem conduzido as economias ocidentais.
Por aqui se movem as personagens belas e elegantes mas grotescas e repelentes que conduzem a acção e onde até, por vezes, se tornam em vítimas das suas próprias maquinações.
Camilleri leva-nos rápida e facilmente nas asas da sua escrita e nós agradecemos a boleia.
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