quinta-feira, 25 de outubro de 2012
A BRILHANTE FICÇÃO DENTRO DA FICÇÃO
Ian McEwan é suficiente conhecido e aplaudido para que seja necessário enaltecer ainda mais a sua obra. Pertence, aliás, a uma geração de belos escritores ingleses como Martin Amis, Julian Barnes, David Lodge, Jonathan Coe, entre outros.
Não somos ingénuos quando vamos ler um livro. Sabemos o tema do livro, conhecemos alguma coisa sobre o autor, foi-nos aconselhado por um amigo, lemos uma referência num jornal. Podemos falar imenso sobre livros que nunca lemos como dizia Pierre Bayard.
Contudo, os bons livros têm o condão de nos surpreender quando os vamos ler apesar de quase já sabermos tudo sobre eles.
Foi o que me aconteceu com “Mel”. Tinha lido várias recensões altamente elogiosas, tinha e tenho o trabalho do autor em grande consideração.
A expectativa era alta, portanto.
Devo dizer, no entanto que ao fim de umas 50, 100 páginas talvez, me sentia um pouco decepcionado em relação às tais tão altas expectativas.
A prosa era sólida, o ritmo consistente e sólido mas… A história não me levava aos píncaros do prazer da leitura. Parecia-me uma coisa a andar demasiado em círculo fechado. E vinha-me uma ideia permanente à cabeça: isto é demasiado inglês.
Serena, uma licenciada em Matemática jovem e bela, filha de um bispo anglicano, leitura furiosa de romances, torna-se amante durante um Verão de um professor universitário muito mais velho que a inicia no pensamento conservador e a encaminha para os serviços secretos, o famoso MI5, antes de desaparecer de forma algo brutal da sua vida.
Tudo se passa no ano de 1972, já na ressaca dos desmandos dos anos 60, durante uma grave crise do petróleo.
Serena debate-se tal como as colegas para se afirmar sendo mulher no mundo masculino dos serviços secretos.
Sabe da morte do seu ex-amante e é encarregue de uma missão invulgar, acompanhar e apoiar um jovem romancista de cariz conservador e anti-soviético ou anti-socialista, no âmbito da tentativa de criar um ambiente cultural
não influenciado pela esquerda europeia.
Serena apaixona-se pelo escritor e debate-se com o problema de lhe confessar ou não a sua verdadeira profissão.
Quando as coisas estão em banho-maria e o romance parece caminhar para um final mais ou menos interessante mas que na aparência se anuncia algo banal, o autor faz uma tremenda e brilhante guinada, consegue fazer subir a narrativa a um ponto inesperado e notável, confere à sua narrativa uma dimensão absolutamente inesperada, em que a ficção se desdobra em ficção da ficção e nos faz perceber que nós, leitores, fomos manipulados e que nada é o que parecia ser.
Leiam, por favor, caros amigos e digam-me depois o que acharam. Estou convencido que este romance é um doce e extraordinário repasto para qualquer viciado em leitura
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