domingo, 5 de maio de 2013
A FORMA COMO SE ESCREVE
Há cerca de 30 anos, mais coisa menos coisa, o encenador José Caldas encenou esta "Vida íntima de Laura" no TAS de Setúbal. Não pude ver. Lamento. Mas fiquei com esta Laura na caixinha da minha curiosidade, um texto de Clarice Lispector.
Vi um outro espectáculo encenado por José Caldas, um dos espectáculos que mais me emocionou na vida: "Acende a noite" a partir de textos de Ray Bradbury.
Há poucos dias soube que é ele que vai encenar um texto meu ("El hombre") para o Teatro Jangada de Lousada. Que bom!
Penso nestas ligações misteriosas que a vida tece quando pego, quase religiosamente, na edição portuguesa de "A vida íntima de Laura" e a leio avidamente.
Por vezes, tão ou mais importante do que aquilo que se escreve é a forma como se escreve. "A vida íntima de Laura" é um exemplo excepcional da importância que tem a forma de contar de uma das mais notáveis escritoras da língua portuguesa do séc XX
Laura é uma galinha vulgar, simpática, com um pescoço muito feio, burra, que não pensa mas pensa que pensa, casada com o galo Luís que gosta muito dela.
Nesta história vulgar Clarice dialogando directamente com o leitor, inventando o leitor, faz dele um cúmplice na forma divertida e um tanto blasé como conta a vida de Laura sem nenhuma cedência ao mau gosto, ao bonitinho, ao didactismo. Nomeadamente levantando a possibilidade de Laura, a simpática Laura, acabar na panela no meio de molho pardo.
As ilustrações são deliciosas, amáveis. Se se pode dizer isso de um traço, de uma paleta de cores, de uma forma de ocupar a página.
E há que elogiar a editora, Relógio d'Água, pela edição de quatro dos livros de Clarice Lispector para crianças que são exemplares e que deveriam ser lidos atentamente por muitos dos nossos escritores para a infância
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