domingo, 12 de maio de 2013
LONDRES OU UMA VASTA CONSPIRAÇÃO PARA DESORIENTAR OS ESTRANGEIROS
Carlos Vaz Marques é o director desta magnífica colecção de livros sobre viagens, não das de turismo mas das outras, das que se fazem por dentro do coração, da inquietação, da curiosidade.
Enric González é jornalista e foi correspondente do El País durante vários anos em Londres. E sobre a cidade diz-nos ele:
"Há cidades belas e cruéis como Paris. Ou elegantes e cépticas, como Roma. Ou densas e obsessivas como Nova Iorque. Londres não pode ser reduzida a antropomorfismos."
Neste livro delicioso, que se lê de uma assentada, o autor passeia pelo espaço fíisico de Londres, ruas e praças, pubs e estações de Metro, museus e catacumbas. E viaja também pela História desta cidade mítica e tão cheia de História como de histórias e de literatura.
Com um notável sentido de humor, Enric González brinca com o que vê e ouve e, se o seu olhar vem de fora, a sua palavra mergulha apaixonadamente nos dédalos arquitectónicos e humanos da cidade para lhe cantar uma bela balada de amor.
Procure-se a a lógica de Londres e certamente não a encontraremos. González cita George Mikes quando afirma que:
"É preciso ter consciência de que uma cidade inglesa é uma vasta conspiração para desorientar os estrangeiros."
E conclui que:
"São precisos muitos passeios para percebermos a harmonia secreta dentro do caos."
O livro resume esses passeios que nos vão revelando o crescimento da cidade no tempo e as diferenças que vão caracterizando bairros e populações. E também nos leva pela organização espafúrdia da Casa Real, pelas origens dos Clubes de Futebol Londrinos, pelas histórias de Jack o Estripador, pela destruição do sistema de saúde inglês pela política ultra-liberal de Margaret Thatcher, pela estrutura e organização política do parlamento inglês, pelas ruas da City onde se resolvem os negócios do mundo, pelos pubs e pala diversidade de cervejas e whiskies, pelos hábitos e natureza da Igreja Anglicana, pelas memórias do período de ouro imperial que foi o do reinado da Rainha Vitória.
E de tudo podemos extrair uma atitude de ironia, de curiosidade, de estranheza, de respeito pela diferença. É assim que se conhece o mundo. Pelos nossos pés e também pela arte da narrativa de autores como Enric González.
(E a propósito, Carlos Vaz Marques diz-nos na introdução que há mais dois livros do mesmo autor com os títulos de "Histórias de Roma" e "Histórias de Nova Iorque", tendio este último recebido grandes e raros elogios de Joé Saramago. Fico ansioso pela tradução para português. Senão lá terei de os mandar vir de Espanha. Carlos, faça o favor de se antecipar e publique-os na sua colecção)
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