segunda-feira, 2 de setembro de 2013

EM NOME DO PAI




Esta "pequena antologia do Pai na poesia portuguesa" tem uma escolha de poesia respeitabilíssima e mostra-nos aquilo que eu já sabia: com raríssimas excepções não há referências ao pai na poesia portuguesa, senão na das últimas décadas.

Vasco Graça Moura faz uma belíssima introdução sobre o tema, usando a sua erudita e elegante forma de pensar e ajudar-nos a pensar sobre a literatura e a poesia.

Curiosamente, e VGM chama a atenção para isso, a quase totalidade dos pais presentes nestes poemas é rural e a sua recordação na palavra dos filhos-poetas é também a recordação de uma certa ruralidade, de uma ligação aos ofícios e à terra, de uma memória dos ciclos da natureza.

Não existem aqui pais da cidade. Ou haverá um ou dois. Quererá isto dizer que os pais da cidade perdem a sua “poeticidade” e que é a ruralidade que lhes confere a grandeza do poema? Não sei.

Sei é que este conjunto de poemas nos permite uma visão breve mas muito interessante sobre alguns nomes cruciais da poesia portuguesa das últimas 2 ou 3 décadas.

Fazer uma antologia é um acto de amor que temos sempre de agradecer ao antologiador porque ele nos dá a conhecer a poesia e nos faz partilhar a paixão por ela a partir de um tema e nos permite o acesso a poetas e a poemas por vezes de grande qualidade mas de circulação muito restrita.

A antologia traz-nos também com frequência uma forma de olhar específica. Porque quem escolhe também exclui.

É pena ter ficado de fora o poeta que talvez mais poemas tenha feito á memória do pai na poesia portuguesa: José Jorge Letria. Vários desses poemas mereciam estar aqui e engrandeceriam esta antologia.

Seja como for, fazem falta antologias. Muitas antologias, controversas, discutíveis, parciais, sobre muitos temas, porque a antologia é um excelente instrumento de abordagem e compreensão transgeracional e diacrónica da identidade que a poesia vai de nós construindo.

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