sexta-feira, 17 de abril de 2015
PESSOA LISBOA E OS OUTROS
Nos últimos tempos li duas excelentes publicações de poetas colombianos. A primeira uma antologia da poesia colombiana, a segunda uma colectânea de Juan Manuel Roca, ambos magnificamente traduzidos por Nuno Júdice.
Já ouvi falar e quero ler depressa "Troco a minha vida por candeeiros velhos", creio que de Jeronimo Pizarro, com tradução de Gastão Cruz e publicado pela Abysmo.
Parece-me óbvio que as autoridades colombianas (tão ao contrário das portuguesas) se preocupam em divulgar a sua literatura e, neste caso, a sua poesia.
O entusiasmo que senti ao ler "OS CINCO ENTERROS DE PESSOA" de Juan Manuel Roca começou na apresentação de Germán Santamaría Barragán, Embaixador da Colômbia em Portugal.
"Portugal é a literatura, e o seu idioma é talvez a língua da terra onde melhor soa a lírica da poesia. Portugal é o país contemporâneo onde mais se publica, e se lêem livros de poesia e onde há mais poetas por metro quadrado, e nas ruas de Lisboa a poesia está presente em cada livraria, nas casas de Fado, na roupa estendida ao colorido sol das janelas em cada calçada que trepa por labirintos de assombro...
A silhueta e o fantasma de Fernando Pessoa , um dos maiores poetas da literatura universal de todos os tempos, sente-se respira-se vive-se, e até assusta nesta cidade que é como o umbral mesmo de um paraíso urbano perdido para o homem e eis porque aqui a poesia encontra a sua perfeita morada para existir a partir da própria vida quotidiana dos seres que a habitam."
Juan Manuel Roca traz nos seus versos um sabor latino-americano maravilhosamente excessivo, largo e luminoso, sensual, carregando aos ombros a dignidade da palavra e a forma como apresenta o sabor dos frutos e da almas . É uma poesia que fala da dignidade dos homens ou do amor, que nos faz correr em círculo e nos deixa de súbito suspensos na explosão da palavra.
"Mas nenhum punhal de sobra tão cortante
Como a longa ausência do teu corpo."
Com ressonância de alguns versos de Vallejo, Neruda e outros, esta sensualidade derrama-se numa música de que a nossa poesia, infelizmente, tem andado tão afastada.
Juan Manuel Roca escreve poesia para mastigar, para cantar; poesia para a voz, para a partilha com o leitores, com os leitores que nele também se lembram de que uma vez tiveram "o sol na cabeça", "Os que sempre hão-se ser/ Mãe/ eu próprio corpo de delito"
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