domingo, 13 de dezembro de 2009

O MAIS MISTERIOSO DOS MISTÉRIOS



Abro os suplementos literários dos jornais portugueses, espanhóis, franceses e a notícia é sempre a mesma. Folheio as revistas, os magazines literários desses países e a notícia também lá está. O título da obra pode variar, o autor pode ser outro, mas, ao fim e ao cabo, nada muda. E isto há anos e anos. Nos últimos tempos, no entanto, a coisa acentuou-se ainda mais. Um mistério para o qual nunca consegui explicação. Mistério de tal modo banal que já nele nem atentamos – o que o torna ainda mais misterioso. Estou a referir-me, apenas e tão só, a uma temática literária que ameaça transformar-se em algo de eterno, ou seja: o holocausto dos judeus na segunda grande guerra; a tragédia dos judeus perseguidos pela máquina de extermínio dos nazis; a odisseia dos judeus em busca de um porto de abrigo. Enfim, os judeus, os judeus, os judeus.
Evidentemente que todos esses crimes nos horrorizaram e continuam a horrorizar. Evidentemente que é algo que não pode nem deve ser esquecido, para não voltar a repetir-se. Evidentemente. Mas que tenhamos de continuar a suportar livros e livros sobre o mesmo assunto, é mistério para o qual não encontro explicação. Algo de aberrante, cujas consequências não são evidentes. Banalização da tragédia e, daí, a sua desvalorização? Possivelmente. Agravamento dos sentimentos mórbidos que vivem no fundo de todos nós? Sem dúvida. Desvio das atenções para os crimes que se cometem todos os dias nas mais variadas regiões do mundo – alguns da autoria de judeus que governam o estado de Israel? Talvez um pouco de tudo isso e ainda algo mais, que não consigo descortinar.
O conhecimento da História é imprescindível para nos compreendermos, para nos situarmos, mas o uso e o abuso da História faz-nos correr o maior dos riscos: o de ficarmos cegos para o que está a acontecer à nossa volta. O Mal é sempre o Mal. Não há Mal de primeira e Mal de segunda. E se não podemos intervir no Mal acontecido, podemos, devemos tomar partido em relação ao Mal que está a acontecer. O nosso combate é o do tempo presente – tudo o resto, alienação – ou uma porta que nos conduz à alienação.

2 comentários:

Alda Couto disse...

Conheci um menino que cada vez que era repreendido começava a chorar, invocando o momento em que tinha sido vítima duma trágica distracção da mãe. Ela, marcada pela culpa para toda a vida, calava-se. E a coisa passava...e ele lá ia fazendo o que lhe dava na real gana...

anjo disse...

_______________________ é assim____________________