domingo, 26 de setembro de 2010

RODEADO DE AMERICANO POR TODOS OS LADOS.


Começa por ser divertido, torna-se absorvente, depois inquietante, finalmente deixa muito que pensar.

Num futuro próximo, as abelhas desapareceram da face da terra.

Inesperadamente 5 jovens em 5 pontos diversos da Terra são picados por abelhas.

Cientistas vão tentar analisar cada um dos 5 jovens para saber o que é que têm de especial e em comum para terem atraído as 5 abelhas.

Depois de lhes vasculharem o corpo de uma ponta a outra, resolvem juntá-los no norte do Canadá e pô-los a contar histórias. Estranhamente as histórias parecem sair da mesma imaginação que junta violência, sexo básico, insegurança relativa ao descontrole da natureza.

Parece-me difícil fazer um resumo porque há uma catadupa de pormenores por vezes delirantes, muitas vezes sem nenhuma continuidade.

As personagens parecem de papel. E talvez de papel químico. Venham de onde vierem, Sri Lanka, Nova Zelândia, França ou dos próprios Estados Unidos, os 5 personagens centrais pensam americano, comem americano, falam americano, estão rodeadas de americano por todos os lados.

Talvez seja o tempo da globalização total. Mas são personagens de papel. Sem profundidade. Com particularidades divertidas, trejeitos delirantes, linguagem minimal.

O livro fala americano num tom pop, pós-moderno, Pulp Fiction, e fala dos receios (ou trágicas certezas) que um homem informado sente em relação ao futuro próximo de um mundo dominado pela tecnologia, pela biologia transformacional, pela palavra arrancada a qualquer possibilidade poética, pela falta da palavra amor.

Talvez esta não seja grande literatura, aquela a que gosto de chamar grande literatura, a que nos arrasa, que penetra na alma humana desde os subterrâneos às grandes alturas, a que nos deixa nus no meio do mundo ou nos faz subir ao alto das montanhas ou das catedrais,

Eu diria que por aqui não passa a literatura. Ou que por aqui não passa a humanidade. Ou que por aqui talvez passe uma tentativa desesperada de encontrar um resto de humanidade em jovens de vinte e tal anos



Numa entrevista ao Ypsilon, Douglas Coupland, autor canadiano, afirmava há poucas semanas:

“Acredito que ou temos informação ou temos uma vida, não podemos ter ambas. Por isso construo uma vida fora da inforcloud.”

E este é talvez o melhor comentário a um livro que me provocou, que me irritou, que me absorveu e que me fez reflectir muito.

1 comentário:

Tiago Carvalho disse...

Fanha
vou colocar em lista dos livros urgentes para ler. é tipo de livro que me encanta.