quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ENQUANTO O DIABO ESFREGA UM OLHO


“QUANDO O DIABO REZA”

MÁRIO DE CARVALHO

Os meus amigos são os melhores escritores do mundo. E o Mário de Carvalho é um dos primeiros entre eles.

Mário de Carvalho é um leitor atento dos clássicos portugueses do séc. XVII, a começar pelo Padre António Vieira. E com eles ou por eles terá caminhado para uma arte rara de bem tratar a nossa língua, de procurar vocabulário luminoso e expressivo, de construi a frase como poucos o fazem na nossa literatura.

Julgo saber que outra das paixões do Mário é a banda desenhada. Dela transpõe para alguns dos seus contos e novelas o traço rápido e um humor tão subtil como galhofeiro.

A juntar a isto tome-se o conhecimento que tem do popular lisboeta chegamos a esta novela que será prima dos famosos e notáveis “Casos do Beco das Sardinheiras”.

A história, que poderia ser também parente da “Crónica dos bons malandros” do Mário Zambujal, mete bandidecos de 3ª categoria, um carro a cair aos bocados uma rapariga facilzita, um dono de drogarias a caminhar para a senilidade com duas filhas que lhe anseiam pela herança para cumprirem os seus sonhos viajantes de pequenas burguesas lisboetas.

Tudo cheira a esta pobre terceira classe em que parece que não deixámos de viver, país pequeno e ronceiro, onde muitos gostam de se tomar a serio, até os governos, e acabam por mostrar à saciedade o seu lado mais frágil e manhoso.

Lê-se enquanto o diabo esfrega um olho, ou enquanto o diabo reza, o que deve ser mais ou menos a mesma coisa.

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