sexta-feira, 23 de março de 2012

CO9M A FORÇA DE UM MURRO NO ESTÔMAGO

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Um homem, engenheiro electrotécnico fica desempregado, escreve um romance e ganha um importante prémio literário.

Foi o caso de João Ricardo Pedro. E o romance é uma surpresa notável quer pela escrita invulgarmente segura para um primeiro romance, quer pela estrutura narrativa, quer pela linguagem seca, dura e sem rodriguinhos.

"Este é dos grandes!" diria o rato Fírmin, devorador de livros, do romance com o seu nome de Sam Savage.

É claro que se trata de um primeiro romance. É claro que é arriscado fazer estas afirmações. É claro que... No entanto, como não sou opinante profissional mas apenas apaixonado pela literatura posso atirar com elogios sentidos sem ter de estar a medir a oportunidade ou a precaver o futuro da produção do autor.

Trata-se de uma narrativa dada em breves pinceladas como se fossem peças musicais ou pequenos contos que vão a pouco e pouco compondo um painel complexo e revelando a história de uma família, avô, pai e neto que se estende por parte do séc. XX, passa pela Guerra Colonial e pelo 25 de Abril e desagua em tempos mais próximos de nós.

É Portugal que passa por aqui. Portugal diverso. Portugal triste, angustioado, brutal debaixo da cantada capa de doçura e melancolia. Mas um Portugal narrado com uma sacana de uma dignidade que não é frequente ver-se.

É claro que se sente na leitura que alguns dos episódios narrados terão alguma coisa de registo do real. Histórias conhecidas, acontecidas, vividas. É normal num primeiro romance. Outras histórias não. Outras têm o peso fascinante da ficção no seu melhor.

A escrita é dura. Curta. Seca. Podíamos dizer, eu pensei nalgunas momentos da leitura, "Bolas, isto é de homem!" Não há poesia por aqui, ou melhor, não há um certo tipo de poesia adocicada que impregna alguma da nossa prosa. As palavras saem carne viva da banca de trabalho do escritor e atigem-nos amiúde com a força de um murro no estômago.

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