segunda-feira, 12 de março de 2012

PORQUÊ LER OS CLÁSSICOS?


Lê-se tanta coisa menos boa. Mas actual. Podemos dizer mesmo que há muita literatura menor (queira isso dizer o que quiser) a que os propagandistas dos livros conferem a urgência da moda e da actualidade.

Do muito que aparece nas bancas das livrarias, o que será considerado um clássico daqui a 100 anos?

De vez em quando regresso aos clássicos, àqueles a que podemos chamar clássicos, com a sorte de dispor hoje de algumas traduções magníficas como é o caso, para o russo, de Nina Guerra e Filipe Guerra, ou António Pescada. Gogol, Turgueniev, Tolstoi, Dostoiewsky, Tchekhov… Constituem uma força única na história da literatura mundial

Mas o que é um clássico?

“Por mais vasta que possam ser as leituras de “formação” de um indivíduo fica sempre um número enorme de obras fundamentais que não se leu”, diz Italo Calvino. Calvino no seu “Porquê ler os clássicos?”.. E acrescenta algumas definições muitíssimo saborosas sobre o que é um clássico:

“De um clássico, toda a releitura é na realidade uma primeira leitura”

“Um clássico é um livro que nunca acabou de dizer o que tem a dizer”

Tchekhov é sem dúvida um clássico. Um extraordinário escritor que me deixa sempre mais reconfortado, porque reconforta ler aquilo que se reconhece como clássico, e porque me leva a reflectir sobre a alma humana, os seus ditames e as suas contradições, que é, no fundo, a espinha dorsal de toda a literatura.

É dessa visita à alma humana que se trata neste “Duelo”. Modernidade e pasmaceira, ciência e fé, amor e desamor, verdade e mentira.. Três ou quatro personagens encontram-se numa pequena cidade do Cáucaso e chocam em torno destes temas que serão sempre os que atormentam os homens estejam eles onde estiverem.

A contradição entre personalidades e conceções diferentes desemboca num duelo que ninguém deseja e que acaba por não ter consequências a não ser a do reencontro de um homem com a sua dignidade e com o desejo de mudar uma vida sem sentido num tempo novo de dignidade própria.

Tchekhov desenha com raríssima mestria personagens aparentemente simples que se tornam complexas pelas circunstâncias. Não precisa de sublinhar. Basta-lhe narrar os factos, as circunstâncias, os acontecimentos, para que as suas personagens saltem do papel com suas paixões, grandezas e misérias para ganharem carne e osso aos olhos do leitor.

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