“Nunca
Mais é Sábado”
Antologia
de Poesia Moçambicana
Organização
de Nelson Saúte
D.
Quixote
Os
livros atravessam-se no caminho, nada a fazer. A paragem era para um café a caminho da Biblioteca mas a livraria era mesmo ao lado. Muitas tentações e 3.90 euros por um livro com dezenas
de poetas dentro irrecusável. Desconhecia muitos deles mas os que reencontro ancoraram
muito bem a escolha.
Uma Antologia é assim mesmo, um percurso escolhido entre muitas
possibilidades. Portas que se abrem para muitas casas. Peço o café, leio… E
continuo a ler ainda.
Atravessam os poemas as lutas e as desditas de uma nação. Somos
parte de um todo que não entendemos porque não nos lemos, não nos ouvimos,
nesta distância feita de chão e de ressentimentos. De mal-entendidos porque
julgamos que vemos bem o visto de longe, Moçambique como outros lugares.
A poesia deixa-nos a pensar e a sentir, suspende ou atira razões à quezília. A
História está a ser escrita com lágrimas e risos. E não sabemos nada da
vida de um povo se não entendermos o sofrimento, a natureza dos espinhos e o
amor. Sempre
o amor e o corpo que o celebra.
Partilho o Eduardo White, um dos meus preferidos.
“Felizes
os homens
que
cantam o amor
A
eles a vontade do inexplicável
E a
forma dúbia dos oceanos.”
(
in Amar sobre o Índico)
Teu
corpo é o país dos sabores
da
súplica e do gozo,
é essa
taça onde bebo
toda
a loucura em que me converto,
teu
corpo, meu deus, teu corpo
é a
vida,
os
estames altos,
os
gestos lentos,
as
carnes e as águas,
teu
corpo é essa casa feliz
onde
se celebra
a loucura
e frio dentro das falésias,
teu
corpo é um amor de suplícios,
amor
que não sobra,
não
resta
e que
nem mesmo de fadiga cessa.”
( in
País de Mim)
Partilha feita vou
continuar a ler, para isso servem os comboios.
Sem comentários:
Enviar um comentário