sábado, 17 de março de 2012

“O que me prende é o que te prende/largo horizonte de outros passados/raízes fundas presas ao chão/e um mar tão largo//” Glória de Sant’Anna



“Nunca Mais é Sábado”
Antologia de Poesia Moçambicana
Organização de Nelson Saúte
D. Quixote



Os livros atravessam-se no caminho, nada a fazer. A paragem era para um café a caminho da Biblioteca mas a livraria era mesmo ao lado. Muitas tentações e 3.90 euros por um livro com dezenas de poetas dentro irrecusável. Desconhecia muitos deles mas os que reencontro ancoraram muito bem a escolha. 
Uma Antologia é assim mesmo, um percurso escolhido entre muitas possibilidades. Portas que se abrem para muitas casas. Peço o café, leio… E continuo a ler ainda. 
Atravessam os poemas as lutas e as desditas de uma nação. Somos parte de um todo que não entendemos porque não nos lemos, não nos ouvimos, nesta distância feita de chão e de ressentimentos. De mal-entendidos porque julgamos que vemos bem o visto de longe, Moçambique como outros lugares.
A poesia deixa-nos a pensar e a sentir, suspende ou atira razões à quezília. A História está a ser escrita com lágrimas e risos. E não sabemos nada da vida de um povo se não entendermos o sofrimento, a natureza dos espinhos e o amor. Sempre o amor e o corpo que o celebra.  

Partilho o Eduardo White, um dos meus preferidos. 

“Felizes os homens
que cantam o amor

A eles a vontade do inexplicável
E a forma dúbia dos oceanos.”

( in Amar sobre o Índico)


Teu corpo é o país dos sabores
da súplica e do gozo,
é essa taça onde bebo
toda a loucura em que me converto,

teu corpo, meu deus, teu corpo
é a vida,
os estames altos,
os gestos lentos,
as carnes e as águas,

teu corpo é essa casa feliz
onde se celebra
a loucura e frio dentro das falésias,
teu corpo é um amor de suplícios,
amor que não sobra,
não resta
e que nem mesmo de fadiga cessa.”

( in País de Mim)

Partilha feita vou continuar a ler, para isso servem os comboios.


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