domingo, 15 de março de 2009

"O PRIORADO DO CIFRÃO" de JOÃO AGUIAR



Eu gosto de tudo o que os meus amigos escrevem. Excepto quando não gosto. Mas nesses casos só lho digo a eles.

O João Aguiar é um muito querido amigo com quem já partilhei várias aventuras da escrita desde a “Rua Sésamo” até àqueles 3 romances malucos que fizemos a 14 mãos com a Alice Vieira, o José Jorge Letria, a Luísa Beltrão, o Mário Zambujal e a Rosa Lobato Faria ("Os Novos Mistérios de Sintra", "O C´ódigo d' Avintes" e o "Eça Agora")

Sempre gostei da escrita e dos livros do João. Jornalista da velha guarda, ele sempre soube contar uma história como mandam as regras. Sem adornos, sem tremeliques, sem lágrimas fáceis ou emoções de pechisbeque. Sempre com ideias, consistência narrativa, literatura.

Sobretudo, sempre gostei da coragem do João em trazer a sua literatura para a praça da cidadania (de onde ela provavelmente não devia sair tão frequentemente).

O João não se despe das suas convicções, não vira as costas às grandes questões que nos preocupam a todos e atira-as descaradamente para o campo do romance. Bate-se pela língua portuguesa e pelo seu uso sem estrangeirismos. E não só pela língua, como pelos vinhos, pelos queijos, pela História, pela Pátria com letra grande.

Trabalhando particularmente bem os temas históricos, o João deu-nos alguns romances notáveis. “A voz dos deuses”, sobre a figura de Viriato, e que tem tido um tremendo e prolongado sucesso (vai perto da 30ª edição!), “A hora de Sertório” e “Uma deusa na bruma” que me entusiasmou imenso na abordagem excepcional que fez da luta entre a civilização castreja e a invasão do Império Romano.

Atacou em força o romance histórico numa altura em que não estava na moda. Foi um pioneiro dess corrente hoje fértil nos bons e maus exemplos que enchem hoje as nossas livrarias e de onde destaco dois belos escritores que são o Miguel real e o Sérgio Luís de Carvalho

A simplicidade de meios na escrita é a imagem de marca do João Aguiar. E simplicidade não quer dizer facilidade, como é óbvio.

O seu ultimo livro, o “Priorado”, vem embrulhado numa divertida trama policial e é uma feroz denúncia do neo-liberalismo e do consequente abandalhamento da sociedade portuguesa.

É de chorar o retrato certeiro dos tiques economistas dos nossos gestores e das suas estratégias oblíquas. Já para não falar nos americanos que vêm instalar toda a trama do Priorado (dos Priorados. Aqui é que é zurzir forte e feio. O João não os poupa, expondo tiques, trejeitos e vícios. Já para não falar dos interesses da Igreja que se cruzam e descruzam ao longo da trama. ´

O Priorado foi escrito antes desta crise que resultou do estoiro das estratégias neo-liberais em que estamos mergulhados e ainda não sabemos aonde nos vai levar. De alguma forma, anunciou-o. A brincar. E essa é uma das muitas funções da literatura, não é?

3 comentários:

Tiago Carvalho disse...

Eu gosto também gosto muito do João Aguiar, principalmente a Voz dos Deuses com a história de Viriato.

Paula disse...

Ainda não li o Priorado e fiquei com vontade. Comecei a ler Uma deusa na bruma e ..... é tudo isso, o João Aguiar.

Anónimo disse...

Li a Voz dos Deuses há muitos anos e, depois disso, li e reli outros títulos do autor. Gostei particularmente dos Comedores de Pérolas, da Catedral Verde e do Navegador Solitário, pelo tom confessional, pela escrita "limpa", sem pretensões, mas rigorosa, e pela capacidade de nos fazerem participar da acção e dos nos tornar, de alguma forma, cúmplices das personagens. Lamento que as editoras apostem pouco no autor e que seja difícil encontrar alguns títulos.

Luísa F. (www.amaroinfinito.blogspot.com)