Bernardo Carvalho é um dos escritores brasileiros mais badalados (e premiados) dos últimos anos. O que dele tinha lido, no entanto, não me havia entusiasmado. Por isso, hesitei em comprar o seu livro de contos, "Aberração", editado pela Cotovia. Mas não me arrependi. É uma obra notável, pela diversidade das histórias, pela linguagem em que são escritas - linguagem despida de ornatos, directa, com uma fluência e leveza que só a dimensão coloquial da fala pode conferir ao texto. Histórias diversas, ligadas - subterraneamente - por duas características: a coincidência e a alucinação. Coincidência de encontros, de descobertas, que tornam claro o que era nebuloso - ou nem sequer existia. Histórias centradas em situações do quotidiano, que têm tanto de óbvio, como de alienatório. E com uma técnica de construção que não é vulgar na ficção literária, pois costuma ser específica da obra cinematográfica: a acção não se desenvolve linearmente, mas decorre de diferentes situações, em que evoluem personagens diferentes, aparentemente sem relação entre si, mas que vão convergindo para uma mesma acção, cujo significado só se torna evidente no desfecho final.Em suma, uma prosa limpa, desocultadora do que se esconde nos actos mais simples da nossa vida - da nossa vida sem história - e que só adquirem sentido ao serem recriados pela mão de um escritor que não teme a inovação.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
BANALIDADE, COINCIDÊNCIA E ALUCINAÇÃO NA ESCRITA DE BERNARDO CARVALHO
Bernardo Carvalho é um dos escritores brasileiros mais badalados (e premiados) dos últimos anos. O que dele tinha lido, no entanto, não me havia entusiasmado. Por isso, hesitei em comprar o seu livro de contos, "Aberração", editado pela Cotovia. Mas não me arrependi. É uma obra notável, pela diversidade das histórias, pela linguagem em que são escritas - linguagem despida de ornatos, directa, com uma fluência e leveza que só a dimensão coloquial da fala pode conferir ao texto. Histórias diversas, ligadas - subterraneamente - por duas características: a coincidência e a alucinação. Coincidência de encontros, de descobertas, que tornam claro o que era nebuloso - ou nem sequer existia. Histórias centradas em situações do quotidiano, que têm tanto de óbvio, como de alienatório. E com uma técnica de construção que não é vulgar na ficção literária, pois costuma ser específica da obra cinematográfica: a acção não se desenvolve linearmente, mas decorre de diferentes situações, em que evoluem personagens diferentes, aparentemente sem relação entre si, mas que vão convergindo para uma mesma acção, cujo significado só se torna evidente no desfecho final.Em suma, uma prosa limpa, desocultadora do que se esconde nos actos mais simples da nossa vida - da nossa vida sem história - e que só adquirem sentido ao serem recriados pela mão de um escritor que não teme a inovação.
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1 comentário:
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