terça-feira, 14 de setembro de 2010

"O PAI DA BRANCA DE NEVE" OU A HISTÓRIA DE UM AQUÁRIO



Incomodou-me, provocou-me, emocionou-me, fez-me pensar muito mas cerca de um terço do livro pareceu-me estar a mais. A história é curta e a escrita anda à volta e à volta, cheia de informação, de reflexão, de repetição. Mas não chega para agarrar quando a história fica a marinar.

Belén Golpegui oferece-nos quilos de informação. Sociológica, biológica, informática, política no sentido da vida colectiva dos cidadãos e não da pequena e mediática política dos partidos instituídos. Estes são os territórios grandes lutas de hoje.



Belén Golpegui não nos dá descanso. Duros, graves e muitíssimo acertados são os ataques que lança contra a sociedade ultra-liberal em que vivemos e as suas consequências na vida dos sujeitos individuais, das famílias de classe média, dos jovens, dos trabalhadores a prazo e a recibo verde, e, sobretudo dos que sonham, dos que querem justiça, dos que querem ser úteis, dos que querem amar.

Não se trata de um panfleto, no entanto. É literatura. Boa literatura que não vira as costas a uma visão pura e crua sobre a sociedade espanhola actual, parecida em muitos aspectos com a portuguesa.

Um aquário é talvez a grande metáfora do romance. Um aquário às vezes confortável mas nunca solidário. Um aquário em que todos nós vivemos isolados do sentido mais belo e puro que devia vestir a vida dos homens. O aquário onde se deixam afogar os que desistem da generosa e urgente respiração das pequenas e grandes utopias.

1 comentário:

Vera de Vilhena disse...

Apesar dos "contras" que indicas, fiquei cheia de vontade de o ler! O tema diz-me muito, principalmente nesta fase da vida e este veio ao meu encontro. Irei procurá-lo.