terça-feira, 25 de janeiro de 2011
AS PALAVRAS E A MEMÓRIA
Ao longo dos anos fui identificando as características fundamentais do que me parece serem as grandes literaturas da América Central e do Sul: México, Cuba, Colômbia, Peru, Argentina, Chile, além, claro, do Brasil.
A literatura argentina sempre teve características muito próprias e tem como figura tutelar esse imenso escritor que foi Jorge Luís Borges. Os seus jogos poliédricos de absurdo, as suas estruturas narrativas em espiral, a erudição literária que informa todo o seu trabalho, as permanentes referências verdadeiras e inventadas, estão presentes em muitos escritores posteriores e também em Ricardo Piglia neste romance, embora o conceituado autor tenha procurado demarcar-se desse tremendo peso e influência.
Antes de Borges houve ainda o extraordinário Macedónio Fernandez que está fortemente presente nesta narrativa onde também aparece James Joyce e o seu romance “Finnegans Wake”
“A cidade ausente” é um livro sobre a memória e sobre a linguagem e a sua capacidade geradora de novas realidades, um livro que nos alerta para os problemas da doença da memória ou da linguagem.
O texto é uma espécie de poema caleidoscópico, um poema que se gera a si próprio a partir de meia dúzia de figuras que se vão deslocando no tempo e no espaço e sempre em torno da questão da falta de liberdade como assassina da memória.
“A Cidade ausente” solicita ao leitor uma entrega emocional que o agarra, o inquieta e o leva através de uma acumulação por vezes quase arbitrária de referências que constroem uma ausência cheia de sentidos que se escoam por aqui e por ali para se irem reencontrando num outro nível, mais poético, se se quiser, do tempo e da memória.
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