Um livro notável do escritor argentino Ernesto Sabato (1911) autor essencial da novela "O Túnel" (1948), dos romances, "Sobre heróis e tombas" (1961) e "Abdão o exterminador" (1974). Sendo licenciado e doutorado em física, Sabato também é autor de ensaios extremamente estimulantes, como por exemplo, "Uno y el Universo" (1945), sobre o qual nós já tivemos a oportunidade de escrever algo (ver Some new reflections on Mr. Palomar).
A pedido do então presidente Raul Alfonsin, Ernesto Sabato presidiu a comissão que investigou o destino dos desaparecidos políticos, perseguidos e assassinados pela bárbara junta militar que governou a Argentina nos anos de 1970; os resultados desta investigação foram sintetizados no livro "Nunca Más" de 1984.
Sob a forma de cinco cartas e um epílogo, e em jeito de síntese, "Resistir" propicia-nos uma leitura comovente e a oportunidade rara de ouvirmos a voz dum sábio-ancião que não se resigna diante das forças que conduzem ao empobrecimento moral e espiritual da nossa sociedade. Embora eu não compartilhe completamente algumas das ideias veiculadas neste magnífico legado, considero "Resistir" uma leitura obrigatória:
... creio que a liberdade que está ao nosso alcance é maior que aquela que nos atrevemos a viver. Basta ler a História, essa grande mestra, para ver quantos caminhos o homem conseguiu abrir com os seus braços, como o ser humano modificou o curso dos factos.
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Creio nos cafés, no diálogo, creio na dignidade da pessoa, na liberdade. Sinto nostalgia, quase ansiedade de um Infinito, porém humano, à nossa medida.
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A vida dos homens centra-se em valores espirituais, hoje quase em desuso, como a dignidade, o desinteresse, o estoicismo de ser humano face à adversidade. Estes grandes valores, como a honestidade, a honra, o gosto pelas coisas bem feitas, o respeito pelos outros, não eram nada de excepcional, tinham-nos a maioria das pessoas.
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É urgente perspectivar uma educação diferente, ensinar que vivemos numa terra que devemos cuidar, que dependemos da água, do ar, das árvores, dos pássaros e de todos os seres vivos, e que qualquer mal que causamos a este universo grandioso prejudicará a vida futura e pode chegar a destrui-la.
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O homem não pode manter-se humano a esta velocidade, se viver como um autómato será aniquilado. A serenidade, uma certa lentidão, é tão inseparável da vida do homem como a sucessão das estações é inseparável das plantas, ou do nascimento das crianças.
O mundo nada pode contra um homem que canta na miséria.
Orfeu B.
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